Quem já viajou de avião certamente ouviu a famosa recomendação de segurança: “Passageiros acompanhados por criança ou alguém que precise de ajuda deverão primeiro colocar suas máscaras de oxigênio para, só depois, auxiliar a pessoa ao lado”. Essa orientação pode ser facilmente adaptada à sala de aula: “Professor, primeiro cuide de você para, então, conseguir cuidar dos seus alunos”. No entanto, a saúde mental dos professores brasileiros enfrenta sérios desafios.
Uma pesquisa recente da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro) revela um cenário preocupante. O estudo, base do livro “Trabalho e Saúde dos Professores – Precarização, Adoecimento e Caminhos para a Mudança”, mostra que, entre 2018 e 2023, os transtornos mentais tornaram-se a principal causa de afastamento dos docentes. Até então, os problemas vocais lideravam os pedidos de licença.
Para se ter uma ideia, em 2016, 27% das licenças médicas na rede pública do estado de São Paulo estavam relacionadas à saúde mental. Atualmente, a maioria dos afastamentos ocorre por causa da síndrome de burnout, do estresse crônico e da depressão.
De acordo com o psiquiatra Gustavo Estanislau, especialista do Instituto Ame Sua Mente, os professores lidam, todos os dias, com uma grande carga emocional. “Eles convivem com emoções positivas e negativas ao interagir com alunos, colegas, famílias e gestores. Essa exigência emocional constante eleva os níveis de estresse, especialmente quando o professor tem pouca habilidade para lidar com as próprias emoções”, explica. Estanislau também destaca que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) já classifica a docência como uma das profissões mais estressantes do mundo.
A violência como agravante
Um dos motivos do aumento no número de casos de transtornos mentais entre educadores é a escalada da A pesquisa realizada em 2023, pela parceria entre Instituto Ame sua Mente e Nova Escola constata o agravamento desta realidade.
66,4% dos educadores percebeu um aumento da agressividade dos alunos contra professores e outros funcionários da escola.
Um dos fatores que contribuem para o aumento dos casos de adoecimento mental entre os educadores é a escalada da violência nas escolas. Em 2023, uma pesquisa realizada pelo Instituto Ame sua Mente, em parceria com a Nova Escola, confirmou essa tendência alarmante. Segundo o levantamento, 66,4% dos professores percebeu um aumento na agressividade dos alunos contra os professores e outros funcionários da escola.
Caminhos para a mudança
Diante desse cenário, é urgente promover mudanças concretas. Para Gustavo Estanislau, desenvolver habilidades socioemocionais é essencial para o bem-estar dos professores. “Docentes que sabem lidar melhor com suas emoções apresentam menos estresse e melhor saúde mental. Isso porque o bem-estar emocional está diretamente ligado à saúde mental”, afirma no livro Dilemas na Educação.
Além disso, diversos estudos vêm reforçando a importância de incluir a aprendizagem socioemocional na rotina escolar de crianças e adolescentes. Essa abordagem fortalece a educação integral e traz benefícios mensuráveis: melhora o desempenho acadêmico, reduz problemas de conduta e o risco de uso de substâncias.
Outro ponto evidenciado pelo autor é a parceria família-escola como um dos pontos-chave para apoiar e valorizar o bem-estar dos professores e, consequentemente, para o desenvolvimento das crianças e jovens.
Por fim, não há transformação sem políticas públicas consistentes. É preciso investir na promoção da saúde mental e na melhoria das condições de trabalho para os mais de 2 milhões de professores brasileiros. Segundo Estanislau, a solução está na união dos diversos atores da sociedade em torno de um problema que afeta a todos.
Para aprofundar essa reflexão, convidamos você a assistir ou ouvir o episódio #22 do podcast e videocast Ame sua Mente na Escola. Nele, o psiquiatra Gustavo Estanislau conversa com o professor Mário Augusto Almeida sobre saúde mental na educação.
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