Em participação no programa Brasil ODS, do Observatório do Terceiro Setor, o psiquiatra infanto-juvenil Gustavo Estanislau, pesquisador do Instituto Ame Sua Mente, e a professora Carolina Capes, Ph.D. pela USP e docente na Universidade de Rutgers, discutem os aspectos cruciais do diagnóstico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) na infância e adolescência. Durante o bate-papo, ambos reforçam como a ciência, a prática clínica e o cuidado familiar precisam caminhar juntos para garantir intervenções mais assertivas.
Para iniciar a conversa, Gustavo Estanislau explica que o TOC se caracteriza por obsessões (pensamentos invasivos) e compulsões (comportamentos repetitivos que buscam aliviar a ansiedade). Assim, a criança ou o adolescente com o transtorno pode, por exemplo, apresentar pensamentos persistentes de contaminação e, como consequência, desenvolver compulsões como lavar as mãos de forma excessiva. Dessa forma, cria-se um ciclo de sofrimento que afeta a rotina, aumenta o desgaste emocional e compromete o bem-estar. Segundo Estanislau, compreender esse ciclo é essencial para o diagnóstico e o tratamento precoces.
Fatores genéticos e ambientais no TOC infantil
Na sequência, a professora Carolina Capes apresentou resultados de suas pesquisas. De acordo com a pesquisadora, existem variantes genéticas raras associadas ao transtorno, especialmente quando ele surge de forma precoce. Ainda segundo Capes, a herdabilidade varia entre 40% e 60% nesses casos.
Além disso, Gustavo Estanislau reforça que aspectos ambientais também influenciam o transtorno. Por exemplo, ambientes familiares muito rígidos ou com pouca flexibilidade emocional favorecem o surgimento ou o agravamentodo TOC. Por isso, genética e ambiente precisam ser analisados em conjunto, e não como explicações isoladas.
Desmistificando as causas do TOC na infância
Ao longo do debate, os especialistas alertam para a circulação de informações equivocadas sobre o transtorno. Ainda hoje, muitas pessoas atribuem o TOC a causas inexistentes ou simplificações incorretas. “Vacinas não causam TOC, e o uso de telas influencia apenas de forma indireta, ao aumentar estados de ansiedade”, afirma Estanislau.
Portanto, combater a desinformação é fundamental para evitar diagnósticos imprecisos, tratamentos inadequados e julgamentos equivocados. Quanto maior o acesso à informação científica, maior a possibilidade de cuidado correto.
Por fim, Estanislau destaca que o TOC infantil ainda é diagnosticado tardiamente. Segundo o especialista, crianças e adolescentes geralmente chegam ao consultório quando as compulsões já estão visíveis. Enquanto isso, as obsessões permanecem ocultas, muitas vezes devido à vergonha e ao medo de julgamento.
Por esse motivo, os profissionais reforçam que a intervenção precoce melhora de forma significativa a qualidade de vida — tanto de quem convive com o transtorno quanto de familiares e pessoas próximas. Reconhecer os sinais cedo significa reduzir o sofrimento e aumentar as chances de tratamento eficaz.







