Telas e Saúde Mental: Desafios para Crianças e Adolescentes

Durante nossa infância, poucos poderiam imaginar um pequeno aparelho capaz de conectar amigos, transmitir filmes e oferecer jogos na palma da mão. Os smartphones foram popularizados há menos de 20 anos e já se tornaram quase onipresentes. Não é de se estranhar que crianças e adolescentes passem horas “hipnotizados” pelas telas. E é nesse cenário que a relação entre telas e saúde mental se torna cada vez mais urgente.

No entanto, muitos adultos ainda têm dificuldade em colocar limites. Afinal, a maioria cresceu sem celular. Além disso, durante a fase mais crítica da pandemia, crianças e jovens, sem alternativa, ficaram ainda mais presos às telas.

Mas será que as telas prejudicam a saúde mental? 

Pesquisas indicam que sim. O uso excessivo pode aumentar a ansiedade, atrapalhar o sono e comprometer processos cognitivos. Passar mais de duas horas diárias nas telas já representa risco, sobretudo para crianças e adolescentes.

Por isso, pais e escolas precisam atuar juntos na definição de limites. O exemplo dos adultos também é fundamental: se não conseguimos nos desconectar, dificilmente ensinaremos os mais jovens. É preciso mostrar, na prática, que vale a pena desligar o celular para se conectar com os amigos, com a família, com as brincadeiras, com os jogos e com o aprendizado. Afinal, tudo se resume a isso: conexão.

Ainda assim, não podemos isolar crianças e adolescentes do mundo digital. O caminho é a educação digital, em que adultos e jovens aprendem juntos a usar a tecnologia de forma consciente.

Brasil: mais celulares do que pessoas 

Em 2020, o Brasil tinha 226,3 milhões de celulares e uma população de 203 milhões de brasileiros. Ou seja, mais aparelhos do que habitantes. As pesquisas expõem que boa parte desses aparelhos estão nas mãos de crianças e adolescentes.

Para se ter ideia, 55% deles já têm o próprio celular (ANATEL), enquanto 82% das crianças entre 10 e 13 anos acessam a internet (Censo 2022). Se analisarmos o grupo entre 9 e 17 anos, 95% deles acessam a internet, principalmente pelas redes sociais: 66% usam Instagram e 63% estão no TikTok (TIC Kids Online).

O crescimento dos transtornos mentais

Nos últimos anos, aumentaram os casos de ansiedade, depressão e até suicídio entre jovens. Em 2022, pela primeira vez, crianças e adolescentes apresentaram mais registros de ansiedade do que adultos (dados RAPS/SUS, 2013-2023):

  • 125,8 casos por 100 mil (10 a 14 anos).
  • 157 casos por 100 mil (15 a 19 anos).
  • 112,5 casos por 100 mil (acima de 20 anos).

O Relatório Mundial da Felicidade de 2023 confirma a tendência: jovens relatam mais infelicidade, rompendo a chamada trajetória em “U” da felicidade. Antes, acreditava-se que a juventude era a fase mais feliz da vida.

É verdade que a pandemia agravou o quadro. Em 2019, adolescentes representavam 14% dos casos de transtornos mentais. Após a crise sanitária, passaram para 36%. No entanto, os problemas não se explicam apenas por esse fator. Há fortes indícios de que os hábitos contemporâneos — com internet e redes sociais no centro da vida — também contribuem para a piora da saúde mental, sobretudo entre nativos digitais.

Telas e saúde mental: o papel das redes sociais

O psicólogo Jonathan Haidt, em A Geração Ansiosa, aponta que as redes sociais estão entre os principais fatores de aumento da depressão entre jovens. “Estamos superprotegendo nossos filhos na vida real e não o bastante na internet.”

Já o psiquiatra e presidente do Instituto Ame sua Mente, Rodrigo Bressan reforça que precisamos aprender a dar limites, sem perder a produtividade. “Quando não conseguimos descansar, nossa capacidade produtiva diminui e os riscos de desenvolver problemas de saúde mental aumentam”, afirma.

Se para adultos a tarefa de equilibrar tecnologia já é difícil, imagine para as crianças e jovens que ainda não têm repertório emocional nem habilidade de colocar tais limites. Por isso, atenção e orientação são essenciais.

Afinal, embora a tecnologia traga inúmeros benefícios, precisamos aprender a usá-la de forma saudável. Somente assim será possível proteger a saúde mental e promover conexões verdadeiras.

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