Nos últimos anos, muito se tem falado sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Ainda assim, o tema continua a gerar muitas dúvidas.
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento relacionado a alterações na maturação cerebral, especialmente no córtex frontal. Essas mudanças prejudicam funções executivas fundamentais, como, por exemplo, autorregulação, automonitoramento, planejamento e organização.
Quais são os tipo de TDAH?
Existem três subtipos do transtorno:
Predominantemente desatento: 20% a 30% dos casos
Predominantemente hiperativo/impulsivo: até 15% dos casos
Combinado: 50% a 75% dos casos
Segundo diversos estudos, o subtipo desatento costuma afetar mais o desempenho escolar, enquanto o subtipo combinado tende a gerar prejuízos mais amplos na rotina e no comportamento.
Características do TDAH
O TDAH costuma se manifestar por excesso de energia, desatenção, baixa motivação e impulsividade. Como resultado, surgem dificuldades na memória e na concentração.
Esses fatores podem atrapalhar a conclusão de tarefas, aumentar o risco de acidentes e gerar instabilidade comportamental. Além disso, impactam não apenas o desempenho escolar e profissional, mas também as relações interpessoais.
Podemos dividir as características do TDAH em três áreas principais:
- Emocionais: por exemplo, imaturidade, dificuldades para controlar sentimentos, baixa autoestima e oscilações de humor.
- Cognitivas: baixa habilidade para resolução de problemas e limitada capacidade de autoavaliação e automonitoramento.
- Comportamentais: tendência à impulsividade, irritabilidade, impaciência e inquietação.
Causas do TDAH
O TDAH tem origem multifatorial. Fatores genéticos são responsáveis por cerca de 77% dos casos, mostrando a forte hereditariedade do transtorno. Da mesma forma, fatores ambientais — como uso de álcool, tabaco ou drogas durante a gestação, prematuridade, traumas ou estresse — também podem aumentar o risco.
Embora os sintomas geralmente surjam na infância ou adolescência, em alguns casos o diagnóstico só ocorre na vida adulta. Isso costuma ocorrer por falta de avaliação prévia, desconhecimento do transtorno ou devido à descoberta tardia em situações que evidenciam os sintomas.
A importância do diagnóstico correto
Segundo o psiquiatra e especialista do Instituto Ame Sua Mente, Gustavo Estanislau, “o TDAH é uma condição bem estudada e amplamente reconhecida pela comunidade médica. No entanto, seu diagnóstico é muitas vezes questionado.”
Por isso, a investigação deve se basear em uma avaliação cuidadosa da história clínica e comportamental do paciente. Neste contexto, é essencial considerar a duração dos sintomas (ao menos seis meses), sua intensidade, os prejuízos causados e a presença em mais de um contexto.
Infelizmente, muitos indivíduos não recebem o diagnóstico adequado. Outros acabam se autodiagnosticando ou recebendo diagnósticos incorretos, o que pode resultar em tratamentos desnecessários ou tardios. Nesses casos, quando o reconhecimento não ocorre a tempo — especialmente na infância — o quadro pode se agravar e comprometer o desenvolvimento.
Além disso, as comorbidades — ou seja, a presença de dois ou mais transtornos simultaneamente — podem dificultar o diagnóstico, pois algumas condições apresentam sintomas semelhantes aos do TDAH.
“Através do diagnóstico e do tratamento adequados, a pessoa costuma apresentar melhora no rendimento escolar, na vida social e na vida familiar. Por outro lado, a demora no diagnóstico pode não só causar prejuízos nessas áreas, como também provocar a queda na autoestima, dificuldade de inserção no mercado de trabalho, entre outros problemas que se manifestam ao longo da vida”, explica Gustavo.
O tratamento funciona?
Sim. Com o tratamento adequado, os sintomas do TDAH tendem a melhorar. “A pessoa costuma ter ganhos importantes tanto no desempenho escolar como também nos relacionamentos e na convivência familiar”, afirma o psiquiatra.
O tratamento ideal deve combinar psicoterapia com outros apoios psicossociais, tais como:
Terapia ocupacional;
Psicopedagogia;
Fonoaudiologia;
Orientação para pais e professores.
Já em alguns casos, recomenda-se o uso de medicamentos. Isso porque eles aumentam a disponibilidade de dopamina no córtex frontal e, consequentemente, melhoram a concentração, a motivação e o autocontrole.
Com o tempo, os sintomas tendem a diminuir à medida que a região frontal do cérebro amadurece. Contudo, cerca de 50% das pessoas continuam apresentando sinais do TDAH na vida adulta. Dessa forma, o acompanhamento contínuo é essencial para preservar a qualidade de vida.
TDAH na escola: como apoiar os estudantes
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência estimada de TDAH entre crianças e adolescentes varia de 3% a 8%. Por isso, compreender o transtorno no ambiente escolar é imprescindível. Antes de tudo, é preciso reconhecer que o comportamento agitado da criança tem causas biológicas — e não se trata de provocação ou busca por atenção.
Do mesmo modo, a falta de foco não deve ser vista como preguiça ou negligência. Na verdade, ela reflete uma dificuldade em manter a motivação em certas tarefas. Portanto, repreensões isoladas não costumam funcionar, já que a criança não tem pleno controle sobre suas reações.
Diante desse cenário, algumas estratégias práticas podem auxiliar no dia a dia escolar. Por exemplo, dar liberdade para o estudante movimentar-se em curtos intervalos ajuda a reduzir a agitação. O acompanhamento próximo, por sua vez, é importante tanto para identificar quedas na motivação do aluno, quanto para valorizar seus comportamentos positivos.
Quer saber mais sobre TDAH?
- Acesse o podcast sobre o assunto, com os especialistas do Instituto Ana Carolina D’Agostini e Gustavo Estanislau.
- Leia também O que é TDAH? Como identificar os sintomas?