Em uma de suas obras mais conhecidas, o escritor Jean-Paul Sartre escreveu: “O inferno são os outros.” E, de fato, conviver pode parecer um castigo em certos momentos. No entanto, a verdade é que sem “os outros” não conseguimos existir. A interação com as pessoas, além de necessária, pode ser também uma grande fonte de prazer. Mas então, como superar os entraves da intimidade e aproveitar o melhor de cada relação?
Tudo começa com o desenvolvimento de competências socioemocionais. Ou seja, é preciso refletir sobre como nos relacionamos no dia a dia. Como falamos, ouvimos, reagimos e acolhemos o outro. Além disso, os primeiros socorros emocionais são ferramentas importantes. Eles ajudam a cuidar de feridas emocionais antes que elas cresçam e prejudiquem nossos vínculos. Por outro lado, não é preciso soluções complexas. Algumas atitudes simples já fazem uma enorme diferença para que a convivência com o próximo proporcione experiências agradáveis e construtivas.
Boas práticas para cultivarmos relações saudáveis
Acolhendo diferenças
Falar sobre diversidade é fácil. No entanto, viver a diversidade exige esforço. Conviver com pessoas muito diferentes — seja na escola, na família ou no trabalho — pode ser desafiador. Ainda assim, abrir-se para o diferente é uma forma poderosa de enriquecer a própria vida e a dos outros. Por isso, a palavra-chave é empatia.
Coloque-se no lugar do outro. Todos temos pontos fortes e limitações. Por isso, seja flexível, respeitoso e pratique a escuta ativa. Nem sempre as opiniões vão se alinhar, e tudo bem. Não é preciso concordar com tudo para conviver em harmonia.
Além disso, diferentes visões de mundo ampliam a nossa forma de enxergar a realidade. Cada pessoa é mais do que o papel que ocupa no nosso dia a dia. Seu amigo da faculdade, seus colegas de trabalho, seus vizinhos e até seus familiares têm histórias que você não conhece. Entender essas realidades ajuda a compreender melhor quem são essas pessoas, como agem e quais desafios enfrentam.
Estabelecendo limites
Muito se fala de relações amorosas abusivas. Mas outras relações também podem ser tóxicas. Amizades, vínculos familiares ou profissionais podem causar sofrimento emocional. Insegurança, ansiedade, tristeza profunda e queda na autoestima são sinais de alerta. Estabelecer limites é o primeiro passo para proteger a saúde mental.
Por isso, defina com clareza o que é aceitável para você. E fique atento às microagressões. É mais fácil reagir a um ataque explícito, mas comentários maldosos ou disfarçados de brincadeira também machucam. Frases sarcásticas, fofocas, piadinhas machistas ou racistas não devem ser ignoradas. Se algo te fere, está errado — por menor que pareça.
Também é importante respeitar a si mesmo. Conheça seus limites e proteja sua intimidade. Deixe claro o que não é negociável. E, se for preciso, afaste-se de quem te faz mal. Porém, lembre-se: respeito é via de mão dupla. Seus limites valem, mas os do outro também.
A hora de pedir ajuda
Pedir ajuda pode ser difícil. Muitas pessoas evitam esse gesto por medo, vergonha ou receio de parecerem frágeis. Algumas não querem incomodar ou não sabem como expressar o que sentem. No entanto, pedir ajuda é essencial para manter a saúde mental.
Além disso, o medo de ser um fardo ainda impede muitos de buscar apoio. Essa ideia individualista alimenta a solidão, que é um mal crescente na nossa sociedade. Por isso, esteja aberto ao diálogo. Ouvir com atenção e oferecer apoio, sempre que possível, faz muita diferença. Às vezes, apenas escutar com empatia já ajuda a aliviar a dor do outro.
Para evitar confusões e mal-entendidos, seja claro em relação às suas necessidades e também sobre como pode prestar auxílio. A comunicação respeitosa e direta é, como sempre, a melhor maneira de interagir.
Por fim, fique atento para sinais que possam indicar que você precisa de ajuda profissional, como terapia e, ou atendimento psiquiátrico. Se a vida está ficando pesada demais, algo pode estar errado. Transtornos mentais ainda enfrentam muito estigma, mas podem afetar qualquer pessoa, em qualquer fase da vida. Reconhecer que precisa de ajuda e buscar apoio é o primeiro passo para melhorar.