Como as escolas podem lidar com adolescentes que cometem autolesão
[Aviso de gatilho: conteúdo de tema sensível relacionado ao suicídio]
O que passa na mente de um aluno que se machuca de forma intencional? O comportamento autolesivo costuma gerar muita incompreensão, seja por parte dos pais, educadores ou mesmo dos colegas da escola. Afinal, esse tipo de prática contraria o senso-comum de autoproteção. Contudo, existem algumas motivações, gatilhos e fatores de risco que levam algumas pessoas, especialmente os adolescentes, a recorrem à autolesão.
O que é a autolesão?
A autolesão é um mecanismo de enfrentamento, onde o indivíduo busca a dor física como forma de evitar ou mesmo se distrair de uma dor emocional grande. Em alguns casos, esse tipo de atitude também é uma forma de resposta a uma sensação de amortecimento emocional. De maneira geral, esse comportamento se caracteriza como uma agressão direta, repetida e intencional contra o próprio corpo, sem que haja a intenção de se matar.
Embora pareça contraditório, quem se autolesiona busca o alívio na dor. Isso ocorre devido a maneira como o cérebro funciona. Quando passamos por uma dor física intensa, uma série de regiões cerebrais respondem ao estímulo. O chamado sistema opióide endógeno, que é uma área cerebral responsável por regular as sensações de dor, fica mais ativa nesse tipo de situação e libera uma grande quantidade de endorfina. A endorfina, por sua vez, é um hormônio relaxante natural do nosso corpo. Assim, quem recorre à autolesão, experimenta uma sensação de relaxamento e alívio depois de se deparar com o sofrimento físico. A dor física, nesses casos, também é uma forma de distrair ou aliviar a dor emocional. Por essa razão, a autolesão é um comportamento viciante e, consequentemente, recorrente.
Autolesão em adolescentes
Embora alguns adultos e crianças pratiquem a autolesão, ela é mais comum entre adolescentes, principalmente dos 12 aos 15 anos. Cortes são mais frequentes, mas também podem ocorrer queimaduras, arranhões, hematomas, fraturas e até arrancar pelos ou cabelos.
Na vida adulta, esse comportamento muitas vezes diminui ou desaparece. Mas isso não significa que o problema foi resolvido. A autolesão costuma ser uma resposta a dores emocionais intensas. Quando ninguém acolhe esse sofrimento com cuidado, outras reações podem surgir.
Muitas pessoas usam a autolesão para lidar com sentimentos negativos ou situações difíceis. No curto prazo, pode até trazer a sensação de que a pessoa retomou o controle emocional. Mas, sem apoio adequado, os impactos a longo prazo tornam-se ainda mais sérios. As marcas no corpo permanecem, e o sofrimento psicológico tende a aumentar.
A importância do acolhimento na escola
A autolesão em adolescentes costuma provocar muitas reações e sentimentos em quem se depara com essa realidade. Um erro comum, ao lidar com esses jovens, é pensar que estão apenas buscando atenção. Essa interpretação, muitas vezes, faz com que o comportamento seja visto como um desafio. Isso cria um cenário perigoso de desconexão e afastamento.
Além disso, reações extremas podem agravar a culpa, o que também não é bom nesse cenário. Criar vínculos e manter um diálogo aberto pode ser bastante desafiador quando falamos em adolescentes. Essa fase é marcada pela busca da autonomia emocional, o que leva muitos jovens a se tornarem menos acessíveis.
Por isso, para promover o diálogo e incentivar o pedido de ajuda, é essencial construir um ambiente seguro e acolhedor. Evitar julgamentos e manter uma postura de escuta fazem toda a diferença. Também é importante respeitar a privacidade do adolescente e mostrar que há sempre alguém disponível para conversar.
Nesse processo, a escola tem um papel central. Professores e gestores podem identificar sinais de sofrimento e encaminhar o aluno para a rede de apoio. Esse suporte, somado à participação da família e à ajuda de um profissional da saúde, é muitas vezes decisivo para a recuperação do jovem.
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