O que é o transtorno bipolar?
O transtorno bipolar é um diagnóstico da psiquiatria que se caracteriza por alterações significativas de humor. Essas mudanças ocorrem em fases, que costumam durar, em média, de duas a três semanas. De acordo com Rodrigo Bressan, psiquiatra e presidente do Instituto Ame sua Mente, “a pessoa com diagnóstico de transtorno bipolar alterna estados de depressão com fases de humor normal e, também, com períodos de humor exacerbado, exaltado”. Portanto, o quadro envolve oscilações marcantes, que interferem diretamente na vida diária.
O impacto do transtorno bipolar: o que mostram os números?
Estima-se que a bipolaridade afete cerca de 140 milhões de pessoas no mundo. Entre esses casos, aproximadamente 80% têm origem hereditária. Além disso, é importante observar que, de modo geral, os sintomas costumam surgir antes dos 30 anos — especialmente entre os 15 e os 25 anos de idade. No entanto, o transtorno também pode afetar pessoas mais velhas, assim como crianças, o que reforça a necessidade de atenção em todas as faixas etárias.
(Fonte: Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos – ABRATA)
Quais são as fases do transtorno bipolar?
Como já mencionado, o transtorno bipolar se caracteriza por alterações intensas de humor. Essas variações ocorrem principalmente entre três estados: mania, hipomania e depressão.
Fase de mania
Durante a fase de mania, o indivíduo apresenta uma combinação de sintomas como euforia intensa, aceleração do pensamento e excesso de energia. Além disso, pode haver desinibição — o que, em muitos casos, envolve comportamentos sexuais de risco, gastos excessivos ou ações impulsivas. É comum também o surgimento de pensamentos de grandeza e a redução significativa da necessidade de sono.
Fase depressiva
Por outro lado, durante a fase de depressão, o quadro muda completamente. A pessoa pode experimentar tristeza profunda, apatia, pensamentos negativos recorrentes, baixa energia e dificuldade para realizar tarefas simples do dia a dia. Outros sinais frequentes incluem alterações no apetite, sono irregular, dificuldade de concentração, além de sentimentos de culpa ou inutilidade.
Fase de hipomania
Já a hipomania é considerada uma versão mais leve da mania. Nesse contexto, os sintomas aparecem de forma atenuada. Geralmente, as pessoas próximas percebem uma mudança no comportamento: o indivíduo pode se tornar mais falante, impaciente ou impulsivo. Entretanto, os impactos tendem a ser menos graves e mais controláveis, com menor interferência nas atividades do cotidiano.
É importante destacar que a depressão bipolar difere da depressão unipolar. Enquanto esta última costuma surgir de maneira mais lenta e com intervalos maiores entre os episódios, a depressão no transtorno bipolar ocorre em ciclos mais curtos e alterna-se com episódios de mania ou hipomania. Por isso, um diagnóstico correto feito por um psiquiatra é essencial, uma vez que cada quadro exige um tipo específico de tratamento.
Tipos de transtorno bipolar
De acordo com os manuais internacionais de diagnóstico — como o DSM-IV e o CID-10 — o transtorno bipolar pode ser classificado em diferentes tipos. Cada um deles apresenta características próprias, com variações na intensidade e na duração dos sintomas.
Tipo I: caracteriza-se por episódios de mania que duram, no mínimo, sete dias. Além disso, há fases depressivas que costumam se estender por duas ou mais semanas. Em ambos os quadros, os sintomas são intensos e impactam de forma significativa a conduta e o comportamento da pessoa.
Tipo II: envolve a alternância entre episódios de depressão e hipomania. Trata-se do tipo mais comum entre os diagnosticados. Apesar de os sintomas de hipomania serem mais leves do que os da mania, as fases depressivas podem ser bastante debilitantes.
Transtorno ciclotímico: Neste caso, o transtorno se manifesta de forma mais leve e crônica, ou seja, o indivíduo alterna sintomas de hipomania e depressão leve. Há oscilações frequentes de humor, que podem ocorrer até mesmo ao longo de um único dia. Por fim, esse padrão é, frequentemente, confundido com traços da personalidade ou do temperamento, o que pode atrasar o diagnóstico adequado.
Transtorno bipolar não especificado: esse tipo é diagnosticado quando os sintomas bipolares são observados como consequência de outras condições médicas ou do uso de substâncias psicoativas. Nesse cenário, a origem do transtorno está relacionada a fatores externos, e o quadro clínico pode variar bastante.
Sintomas do transtorno bipolar
Importante lembrar que os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, tanto na fase depressiva quanto nos períodos de mania e hipomania. Veja a seguir os principais sintomas em cada estado:
Depressão
Alterações no apetite, com perda ou ganho de peso;
Humor deprimido na maior parte dos dias;
Fadiga constante ou perda de energia;
Apatia, desânimo e choro frequente;
Redução do interesse por atividades antes prazerosas;
Dificuldade de concentração e insegurança para tomar decisões;
Insônia ou sono excessivo (hipersonia);
Sentimentos de culpa, inutilidade e cansaço mental;
Tendência ao isolamento;
Irritabilidade e ansiedade;
- Pensamentos sobre morte ou suicídio.
Mania e hipomania
Sensação intensa de bem-estar ou euforia;
Aceleração do pensamento e da fala;
Hiperatividade e inquietação;
Pouca ou nenhuma necessidade de dormir;
Aumento da energia e da impulsividade;
Redução da concentração;
Irritabilidade;
Desinibição e percepção de risco comprometida;
Sensação de grandiosidade ou poder.
Riscos ou consequências do transtorno bipolar
Embora seja uma disfunção cerebral, o transtorno bipolar pode afetar o corpo como um todo. Além das dificuldades cognitivas — como problemas de memória e de aprendizado —, o transtorno também está associado a processos inflamatórios no organismo. Nesse sentido, o psiquiatra Rodrigo Bressan explica: “O sistema nervoso regula tanto o sistema endócrino quanto o imunológico. Em pessoas com transtorno bipolar, o cérebro libera substâncias inflamatórias em excesso, que predispõem à ocorrência de doenças.”
Ainda segundo o especialista, “quando falamos em inflamação, não é como aquela aguda, que gera dor ou febre. É algo mais sutil. Às vezes, uma lesão pequena pode se desenvolver lentamente ao longo do tempo.” Além disso, pessoas com transtorno bipolar apresentam maior suscetibilidade à obesidade, ao infarto do miocárdio e a alterações na pressão arterial. Ou seja, os impactos do transtorno não se restringem à saúde mental, mas também afetam o bem-estar físico.
Outro risco importante, especialmente quando o transtorno não é tratado, está relacionado ao envelhecimento precoce do sistema imunológico. Por fim, um fator especialmente alarmante é a forte relação entre bipolaridade e suicídio. Trata-se, segundo os especialistas, do transtorno mental mais associado a comportamentos suicidas. De acordo com dados da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), entre 30% e 50% das pessoas com o diagnóstico, quando não tratadas, tentam tirar a própria vida. Esses números reforçam a urgência de um cuidado contínuo e especializado.
Como tratar o transtorno bipolar?
O tratamento do transtorno bipolar busca alcançar um ponto de equilíbrio. Em outras palavras, o objetivo é reduzir a intensidade das crises e ampliar os períodos de estabilidade emocional. Para isso, são utilizadas medicações conhecidas como estabilizadores de humor, como o lítio e alguns anticonvulsivantes. Além dessas, outras medicações podem atuar nos níveis de dopamina. No entanto, os antidepressivos são prescritos com bastante cautela, sendo indicados apenas em casos muito específicos, devido ao risco de induzirem episódios maníacos.
Além da medicação, a psicoterapia desempenha um papel fundamental no tratamento. Por meio dela, a pessoa aprende a compreender seus comportamentos e emoções, desenvolvendo maior autoconhecimento. Com isso, é possível identificar os sintomas precocemente e aprimorar a capacidade de autorregulação. Assim, o tratamento se torna mais eficaz e favorece uma vida com mais estabilidade.
Por fim, compreender o transtorno bipolar é fundamental para quebrar estigmas, pois o preconceito ainda é uma das principais barreiras que impedem a busca por ajuda.
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