O transtorno bipolar é um distúrbio crônico que causa episódios de alteração significativa no humor. De acordo com Rodrigo Bressan, psiquiatra e presidente do Instituto Ame sua Mente, “a pessoa com transtorno bipolar passa por períodos de depressão, assim como apresenta fases de humor normal e momentos de humor mais exaltado.”
Estima-se que essa condição afete cerca de 140 milhões de pessoas no mundo. Aproximadamente 80% dos casos têm origem hereditária. Além disso, os sintomas do transtorno bipolar costumam surgir antes dos 30 anos – sobretudo entre os 15 e 25 anos.
Fases do transtorno bipolar
Como já mencionamos, o transtorno bipolar se caracteriza por alterações intensas de humor. Essas variações ocorrem principalmente entre três estados: mania, hipomania e depressão.
Mania
Durante o período de mania, o indivíduo apresenta sintomas como euforia intensa, pensamento acelerado e excesso de energia. Da mesma forma, pode haver desinibição, que frequentemente se manifesta por comportamentos sexuais de risco, gastos excessivos ou ações impulsivas. Também é comum pensamentos de grandeza e a redução significativa da necessidade de sono. Em resumo, os sintomas da mania são mais graves e disfuncionais.
Hipomania
Já a hipomania é uma versão mais leve da mania. Ou seja, os sintomas são sutis e, em geral, só quem convive com a pessoa, percebe as mudanças no seu comportamento. Neste caso, os impactos costumam ser menos intensos e mais controláveis, atrapalhando pouco a rotina.
Depressão
Por outro lado, na fase de depressão, o quadro muda completamente. A pessoa pode apresentar tristeza profunda, apatia, pensamentos negativos recorrentes e dificuldade para realizar tarefas simples do dia a dia. Outros sinais frequentes incluem não só alterações no apetite, como sono irregular, dificuldade de concentração, além de sentimentos de culpa e inutilidade.
Por fim, é importante lembrar que a depressão bipolar não é igual à depressão comum. Enquanto esta surge de forma mais lenta e com intervalos maiores entre os episódios, a depressão no transtorno bipolar ocorre em ciclos mais curtos e alterna-se com episódios de mania ou hipomania. Por isso é fundamental o diagnóstico correto, já que cada quadro exige um tipo de tratamento específico.
Sintomas
Também é preciso destacar que os sintomas se manifestam de formas diferentes em cada pessoa, tanto na fase depressiva quanto nos períodos de mania ou hipomania.
Mania ou hipomania
Sensação intensa de bem-estar ou euforia;
Aceleração do pensamento e da fala;
Hiperatividade e inquietação;
Pouca ou nenhuma necessidade de dormir;
Aumento da energia e da impulsividade;
Redução da concentração;
Irritabilidade;
Desinibição e percepção de risco comprometida;
Sensação de grandiosidade ou poder.
Depressão
Alterações no apetite, com perda ou ganho de peso;
Humor deprimido (sentir-se triste ou sem esperança);
Fadiga constante ou perda de energia;
Apatia, desânimo e choro frequente;
Redução do interesse por atividades antes prazerosas;
Dificuldade de concentração e insegurança para tomar decisões;
Insônia ou sono excessivo;
Sentimentos de culpa ou inutilidade
Cansaço mental;
Tendência ao isolamento;
Irritabilidade e ansiedade;
- Pensamentos recorrentes sobre morte ou suicídio.
Tipos de transtorno bipolar
De acordo com manuais internacionais de diagnóstico — como o DSM-IV e o CID-10 — o transtorno bipolar pode ser classificado em diferentes tipos. Cada um apresenta características próprias, que variam em intensidade e duração dos sintomas, a saber:
Tipo I: caracteriza-se por episódios de mania — que duram, no mínimo, sete dias — e fases depressivas, que costumam se estender por duas ou mais semanas. Em ambos os quadros, os sintomas são intensos e impactam de forma significativa o comportamento e a rotina da pessoa.
Tipo II: Esse é o tipo mais comum entre os casos diagnosticados. Nele, ocorrem alternâncias entre episódios de depressão e hipomania. Ainda que a hipomania tenha sintomas mais leves, as fases depressivas podem ser intensas, causando grande impacto na vida da pessoa.
Transtorno ciclotímico: os sintomas aparecem de forma mais leve e crônica. Isto é, o indivíduo alterna sinais de hipomania e depressão leve, mas com oscilações frequentes de humor. Por esse motivo, esse padrão é, frequentemente, confundido com traços de personalidade ou temperamento, o que pode atrasar o diagnóstico correto.
Transtorno bipolar não especificado: ocorre quando os sintomas bipolares se manifestam como consequência de outras condições médicas ou do uso de substâncias psicoativas. Nesses casos, a origem do transtorno está associada a fatores externos, e o quadro clínico pode, portanto, apresentar grande variação.
Consequências do transtorno bipolar
Embora seja uma disfunção cerebral, o transtorno bipolar pode afetar o corpo como um todo. Como explica Bressan, “o sistema nervoso regula tanto o sistema endócrino quanto o imunológico. Porém, em pessoas com transtorno bipolar, o cérebro libera substâncias inflamatórias em excesso, que predispõem a ocorrência de doenças.”
Nesse contexto, além das dificuldades cognitivas — como problemas de memória e de aprendizagem — a bipolaridade também se relaciona a processos inflamatórios no organismo. Por isso, pessoas com o transtorno podem ter mais risco de desenvolver obesidade ou infarto do miocárdio.
Outro fator ainda mais alarmante é a forte relação entre bipolaridade e suicídio. Segundo especialistas, trata-se do transtorno mental mais associado a comportamentos suicidas. Dados da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB) mostram que, entre 30% e 50% das pessoas com diagnóstico que não recebem tratamento, tentam tirar a própria vida. Assim, esses números reforçam a urgência de um cuidado contínuo e especializado.
Como tratar o transtorno bipolar?
O tratamento do transtorno bipolar busca, acima de tudo, alcançar um ponto de equilíbrio. Em outras palavras, o objetivo central é reduzir a intensidade das crises e, ao mesmo tempo, ampliar os períodos de estabilidade emocional.
Para atingir esse resultado, utilizam-se medicações conhecidas como estabilizadores de humor, entre elas o lítio e alguns anticonvulsivantes. Além disso, em determinadas situações outras medicações podem atuar diretamente nos níveis de dopamina. No entanto, os antidepressivos são prescritos com bastante cautela e indicados apenas em casos muito específicos, devido ao risco de, eventualmente, induzirem episódios maníacos.
Paralelamente ao uso de medicamentos, a psicoterapia também desempenha um papel essencial no tratamento. Isso porque, graças a ela, a pessoa passa a compreender melhor seus comportamentos e emoções. Com isso, ela consegue identificar precocemente os sinais do transtorno e, desse modo, aprimorar a sua capacidade de autorregulação.
Dessa maneira, é fundamental ressaltar que, embora não tenha cura, existem tratamentos eficazes para o transtorno bipolar. De fato, com adesão ao tratamento prescrito pelo psiquiatra, as pessoas com essa condição podem levar uma vida normal e funcional.