Janeiro Branco

Para a maioria das pessoas, o início do ano desperta o desejo de renovação, mudanças e, claro, a busca por uma vida melhor. É nesse clima que muitos pegam aquela folha em branco e anotam metas para os próximos meses. Frases como “este ano vou me alimentar melhor”, “vou emagrecer”, “vou parar de fumar” ou “vou ganhar mais dinheiro” aparecem com frequência.

Já “vou cuidar da minha saúde mental” raramente entra nessa lista.  Foi justamente para mudar esse cenário que um grupo de psicólogos de Uberlândia (MG) criou o Janeiro Branco. A campanha chama atenção para a importância de cuidar da saúde mental o ano todo — e convida as pessoas a incluí-la entre suas prioridades desde o primeiro mês.

 


Por que é  importante cuidar da saúde da mente?

A saúde mental é um tema que vem ganhando destaque. Mesmo antes da pandemia, os números já indicavam um cenário crítico. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados pelo Ministério da Saúde, 18,6 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade. Além disso, os transtornos mentais são responsáveis por mais de um terço das pessoas incapacitadas nas Américas.

A pandemia agravou esse quadro e trouxe novas questões à tona. Um exemplo é a chamada fadiga pandêmica. Usado pela OMS, o termo descreve o cansaço e esgotamento físico e mental gerado por longos períodos de isolamento social, insegurança e instabilidade. Restrições na vida social, dificuldades financeiras e a sensação constante de incerteza contribuíram para aumentar o sentimento de impotência. Como resultado, nossa capacidade de planejar o futuro ficou comprometida.

Embora essas experiências não se caracterizem, por si só, como transtornos mentais, é importante lembrar que a exposição prolongada a elas pode desencadear problemas como ansiedade, depressão e insônia.

Outro efeito colateral da pandemia é o chamado definhamento, conceito apresentado pelo psicólogo Adam Grant. Ele descreve essa condição como uma sensação de estagnação, falta de propósito,  dificuldade de concentração e queda no rendimento. Mesmo não seja um transtorno, o definhamento pode evoluir para graus mais severos de depressão — e por isso deve servir como um alerta.


A saúde mental na História

Além do contexto atual, há razões históricas para criar campanhas de conscientização sobre saúde mental. Apesar do tema estar mais presente no debate público, durante muito tempo ele foi marginalizado. Ao longo da história, a humanidade precisou percorrer um longo caminho até reconhecer que as doenças da mente também exigem cuidado.

Na Antiguidade, por exemplo, muitos povos associavam saúde mental a forças sobrenaturais. Acreditava-se que transtornos eram causados por espíritos malignos. Há indícios de que, por volta de 5000 a.C. pessoas tinham  o crânio perfurado  para “expulsar”  essas entidades. No entanto, os egípcios se destacavam por uma abordagem mais humana: usavam música, dança e pintura como formas de tratamento — práticas que antecipam o que hoje chamamos de arteterapia.

Na Idade Média, surgiram os primeiros espaços de exclusão para pessoas com comportamentos considerados desviantes. Criaram-se os primeiros espaços de segregação, como casas de trabalho e asilos, para manter afastadas da sociedade as pessoas que apresentavam qualquer desvio de comportamento. A ideia era isolar, não acolher.


A saúde mental no século XX

Somente no século XX a saúde mental começou a ser compreendida de forma diferente. Foi quando Freud trouxe à tona o conceito do inconsciente, revelando a origem de muitos sofrimentos psíquicos. A partir desse entendimento, surgiram as primeiras psicoterapias, medicamentos e, com o tempo, avanços importantes nos cuidados com a mente.

Também nesse período, exatamente em 1924, surgiram os primeiros movimentos contra a exclusão e o preconceito. A reforma reforma psiquiátrica  e o movimento antimanicomial buscavam justamente transformar o modo como a sociedade tratava quem sofria com transtornos mentais.

Mais adiante, em 1946, a OMS reconheceu oficialmente a saúde mental como parte essencial da saúde como um todo. Desde então, o desafio tem sido equiparar os cuidados com o corpo e com a mente. No entanto, essa mudança só será completa com a desconstrução de preconceitos profundamente enraizados.


Estigmas e preconceitos: barreiras que ainda persistem

À medida que os transtornos mentais afetam mais pessoas, cresce também a necessidade de falar sobre o assunto. Apesar dos avanços na conscientização, os estigmas e preconceitos ainda dificultam esse processo.

A mídia, por exemplo, muitas vezes reproduz representações distorcidas sobre pessoas com transtornos mentais. É comum vermos notícias de crimes graves envolvendo alguém com um diagnóstico psiquiátrico. Quando esses casos não são contextualizados adequadamente, acabam reforçando a falsa ideia de que essas pessoas são perigosas.

Além disso, outros estereótipos continuam sendo perpetuados. Um deles é a culpabilização, como se a pessoa com transtorno mental não estivesse se esforçando o suficiente. Outro é a crença de que alguém com esse tipo de diagnóstico não é capaz de ocupar cargos de responsabilidade ou realizar tarefas complexas.

Devido à vergonha e à culpa, muitos dos que desenvolvem um transtorno mental têm dificuldade de aceitar esta condição e buscar ajuda profissional. Fingir que algo não está acontecendo ou que está sob controle pode parecer um caminho mais razoável do que assumir a possibilidade do surgimento de um quadro psicológico/psiquiátrico.

Por fim, questões de saúde mental ainda são julgadas como um sinal de fraqueza, especialmente em uma sociedade que valoriza a produtividade e a alta performance. Porém,  figuras públicas como a ginasta Simone Biles ajudam a mudar essa visão. Em 2021, ela optou por não competir em provas olímpicas para preservar sua saúde mental. Com apenas 24 anos, Biles inspirou o mundo ao mostrar que reconhecer limites e cuidar de si não é um ato de fraqueza, mas sim de coragem.

Você já conhecia a importância do Dia Mundial da Saúde Mental? Veja também como a ,terapia é uma boa ferramenta para ajudar a sua saúde mental.

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