Trabalho invisível: como algumas circunstâncias geram sobrecarga mental para as mulheres.
Todo mundo conhece uma mulher que está sempre ocupada. Ela se desdobra entre o trabalho, os cuidados com a casa e a família. Mantém a aparência impecável e a mente cheia de responsabilidades. Boa parte dessas tarefas integra o chamado trabalho invisível — aquele que não é remunerado, raramente é reconhecido, mas consome tempo, energia e atenção.
Na verdade, muitas mulheres se encaixam nesse perfil. No entanto, assumir o papel de super-heroína, que dá conta de tudo e de todos, tem um custo alto para a saúde mental. Irritabilidade, cansaço constante, sono de má qualidade, dificuldade de concentração, dores no corpo e sensação de exaustão são sinais de uma carga mental elevada. Não por acaso, as mulheres lideram as estatísticas de desequilíbrios emocionais e transtornos mentais. A depressão, por exemplo, é duas vezes mais comum nelas. O mesmo ocorre com a ansiedade.
Trabalho invisível
Embora ainda pouco conhecidos por parte da população, os termos “trabalho invisível” e “carga mental” têm ganhado destaque entre pesquisadores da área da saúde.
O trabalho invisível está ligado ao ambiente doméstico e familiar. Trata-se de atividades não remuneradas e frequentemente desvalorizadas pela sociedade. Entre elas estão a limpeza da casa, os cuidados com crianças e idosos e o preparo das refeições. Em muitos lares, essas tarefas ainda recaem quase exclusivamente sobre as mulheres.
As estatísticas mostram que em todo o mundo as mulheres carregam uma parcela desproporcional de cuidados não remunerados e trabalho doméstico, sendo uma das maiores disparidades de gênero entre homens e mulheres.
Segundo dados do IBGE (2019), no Brasil, as mulheres dedicam em média 4 horas e 25 minutos diárias ao trabalho não remunerado. mais de três vezes a média dos homens de 1 hora e 23 minutos. . Isso mostra uma das maiores disparidades de gênero no mundo. E, quando somamos esse tempo ao trabalho remunerado, muitas mulheres vivem em turnos duplos ou até triplos.
Carga mental
Além do esforço físico, há ainda o desgaste mental. São elas que organizam a lista do supermercado, cuidam das roupas, acompanham o calendário de vacinação dos filhos, planejam as atividades da família, ajudam nas tarefas escolares, se responsabilizam pelos pets e ainda gerenciam centenas de pequenos detalhes do dia a dia. Algumas, inclusive, assumem o papel de “gerentes” dos parceiros. Eles até ajudam, mas só quando solicitados. Essa função de antecipar as necessidades de todos e manter a harmonia familiar cobra um preço emocional alto.
Diante de tudo isso, não é difícil entender por que tantas mulheres vivem no limite. Na visão da sociedade, a linha entre “mulher-maravilha” e “louca” é fina. Porém, é importante dizer: o trabalho invisível é essencial. E tão exaustivo quanto o trabalho formal. A carga é real – e pesada.
Pandemia e a piora do trabalho invisível
A pandemia de Covid-19 escancarou ainda mais as desigualdades de gênero dentro dos lares. A saúde mental da população foi amplamente afetada, mas as mulheres sofreram mais. A Organização Mundial da Saúde (OMS), inclusive, classificou as mulheres como o grupo mais vulnerável a questões relacionadas à saúde mental durante a pandemia, em especial gestantes e mães.
Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, de 2020, reforçou isso. As mulheres foram as mais impactadas emocionalmente. O motivo? O acúmulo de funções, agravado pela suspensão da rede de apoio. Com escolas fechadas e famílias isoladas, muitas mães precisaram se virar sozinhas. Resultado: foram elas que mais relataram sintomas depressivos nesse período.
Como aliviar a sobrecarga mental das mulheres
Enfrentar o desequilíbrio de gênero nas tarefas domésticas exige uma mudança cultural profunda. Para isso, são necessárias campanhas de conscientização, políticas públicas e o engajamento de toda a sociedade. No entanto, também é possível agir no dia a dia. Algumas atitudes simples podem ajudar a reduzir a sobrecarga mental das mulheres:
Agora, a conversa é com as mulheres – embora valha para todo mundo:
Você não precisa dar conta de tudo:
Nenhuma mulher deve trabalhar 24 horas por dia. Descansar é fundamental para seguir em frente.Cuide de si antes de cuidar dos outros:
Assim como nas instruções de voo, coloque a máscara em você primeiro. Acredite, o seu bem estar deve vir primeiro, só assim conseguirá cuidar do outro.Converse com seu parceiro:
O diálogo claro e honesto ajuda a dividir tarefas e responsabilidades de forma justa.Evite “gerenciar” a casa sozinha:
Cada um deve ser responsável por sua parte do combinado. Só assim a divisão será verdadeira.Mantenha corpo e mente em equilíbrio:
Pratique atividades físicas mesmo que sejam caminhadas pelo bairro, que trazem ótimos benefícios.Separe um tempo só para você:
Reserve um tempo para si, para ficar em silêncio e experimente praticar a meditação ou técnicas de mindfulness. Acesse nosso podcast para uma prática guiada.Busque ajuda se precisar:
Não há motivos para se sentir mal por precisar de ajuda, leia sobre os mitos da terapia.