Adultização infantil: riscos, impactos e como proteger as crianças nas redes sociais

 

O tema da adultização infantil nas redes sociais exige atenção imediata. Isso porque o problema da exploração e exposição de crianças não se limita a episódios isolados. Ao contrário, ele se repete e se amplia dentro da lógica da economia da atenção.

 

Afinal, o que é adultização infantil?

De forma simples, adultização infantil significa expor crianças e adolescentes a comportamentos, conteúdos e expectativas que não correspondem a sua idade. Entre os exemplos mais comuns estão:

  • sexualização precoce;

  • pressão por desempenho;

  • monetização de conteúdo;

  • estética e linguagem inapropriadas para a idade;

  • substituição do brincar por responsabilidades excessivas.

Em outras palavras, adultizar não é incentivar autonomia de forma responsável. Mas, sim, pular etapas essenciais para o desenvolvimento. E etapas perdidas, na maioria das vezes, cobram o seu preço na saúde mental.

Por que o tema da adultização infantil explodiu?

O vídeo do Youtuber Felipe Bressanim (Felca) funcionou como um gatilho coletivo. Resultado: em poucos dias, acumulou milhões de visualizações. Também pautou veículos de imprensa e chamou a atenção das autoridades. Assim, práticas que exploram a infância em busca de engajamento e lucro ganharam visibilidade inédita.

Consequentemente, as denúncias de “pornografia infantil” registraram alta de 114%. Esse aumento mostra que mais pessoas passaram a reconhecer conteúdos ilegais e reportá-los. Além disso, o caso abriu espaço para um debate amplo sobre os deveres das plataformas digitais e a responsabilidade dos anunciantes.

Como a adultização infantil ocorre?

Nas telas e algoritmos

No Brasil, 95% dos jovens de 9 a 17 anos usam a internet e o acesso começa cada vez mais cedo. No entanto, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda nada de telas antes dos 2 anos e tempo limitado e supervisionado para as demais idades. Veja a relação entre uma vida hiperconectada e saúde mental de crianças e adolescentes aqui.

Por outro lado, a exposição contínua de menores a conteúdos digitais, sem qualquer filtro ou controle parental, é um risco.

A criança pode entrar em contato com material sexual, desafios perigosos e publicidades disfarçadas. Também fica mais vulnerável a comparações e à pressão por padrões estéticos irreais, o que contribui para a sua adultização.

Neste sentido, o governo federal publicou um Guia para Uso Consciente de Telas. O material possui orientações por faixa etária e incentiva o couso parental, reduzindo, assim, os efeitos do “piloto automático” dos algoritmos.

 

No trabalho infantil online – “influencer”

“Criança viralizando” nem sempre significa “criança trabalhando”. No entanto, em muitos casos, há monetização, publicidade e pressão por produção contínua.

Não por acaso, centros de pesquisa em direito e infância discutem se a atuação de crianças “criadoras de conteúdo” configura trabalho infantil digital. Entre os riscos, estão jornada excessiva, exploração de imagem e adultização precoce.

Além disso, práticas como moda sexualizada, linguagem de duplo sentido e responsabilidades adultas impostas cedo demais reforçam a adultização. Tudo isso priva a criança do brincar, do ócio e da socialização — bases fundamentais para a construção da sua identidade e desenvolvimento emocional.

Nesse cenário, a falta de regulação se torna ainda mais preocupante. A legislação prevê alvará judicial para o trabalho artístico infantil, mas, no ambiente digital, muitos perfis de crianças operam sem essa proteção legal, inclusive veiculando publicidade oculta.

Para enfrentar essa lacuna, foi apresentado em março de 2025 o Projeto de Lei 785/2025. A proposta prevê autorização judicial prévia para influenciadores mirins, adequando o Estatuto da Criança e do Adolescente ao cenário digital.

 

Impactos negativos

Crianças colocadas em papéis que não condizem com sua fase de vida podem enfrentar, na vida adulta, dificuldades de autoconhecimento e regulação emocional. Os efeitos podem ser profundos e duradouros, com dificuldades de socialização e risco maior de problemas de saúde mental.

Além disso, novas tecnologias trazem desafios adicionais. A Inteligência Artificial, por exemplo, facilita a criação de conteúdos manipulados ou fictícios, com potencial de danos igualmente graves.

 

Como combater a adultização infantil

Em casa (famílias e responsáveis):

  • Couso e diálogo: mostre interesse pelos conteúdos que atraem a criança ou adolescente. Ao assistir junto, você pode conversar sobre os riscos do ambiente online. Combine também regras de tempo e uso. E lembre-se: ferramentas de controle são úteis, mas não substituem vínculo e presença.

  • Rotina de infância: priorize o brincar, a socialização, as atividades ao ar livre e o sono regular. Além disso, evite atribuir responsabilidades que não condizem com a etapa de vida e desenvolvimento da criança ou adolescente.

  • Sinais de alerta: proximidade e atenção são fundamentais para que se possa perceber precocemente qualquer problema. Observe mudanças de humor, isolamento, sinais de sexualização precoce, conteúdo inadequado salvo no aparelho, comparações e expectativas excessivas por aprovação. Em caso de dúvida, procure orientação profissional.

Na escola:

  • Educação midiática: aborde temas como privacidade, assédio online, publicidade e limites de exposição em sala de aula.

  • Rede de proteção: reconheça riscos e impactos da vida online na saúde mental. Paralelamente, crie repertório e protocolos de acolhimento, manejo e encaminhamento de casos, sempre em diálogo com famílias e órgãos competentes.

Desta forma, quando o debate ganha visibilidade, transforma-se em atitude e cuidado coletivo. Portanto, combater a adultização infantil é compromisso com o presente e com o futuro. Afinal, saúde mental é vida.

 

Como denunciar:

  • Disque 100 (Direitos Humanos) — 24h, gratuito.
  • SaferNet — canal anônimo de denúncias e orientação, inclusive para falar sobre conteúdos de exploração infantil.

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