Entre os diversos temas relacionados à saúde mental, a depressão é um dos mais conhecidos. Trata-se de um transtorno mental caracterizado, na maioria dos casos, pelo humor deprimido, marcado por tristeza persistente, além da sensação de menos-valia.
No entanto, embora a maior parte das pessoas já tenha certa noção do que é a depressão, ainda é comum confundi-la com tristeza. “A tristeza é uma emoção passageira, que costuma desaparecer quando cuidamos do que a causa. Por outro lado, na depressão, os sintomas não desaparecem com o tempo”, explica a psicóloga Ana Carolina D’Agostini, especialista do Instituto Ame Sua Mente.
Vale lembrar que os sintomas de depressão podem surgir em qualquer fase da vida e, quando não recebem tratamento adequado, acabam se repetindo.
Sinais e sintomas de depressão
Quem convive com a depressão costuma relatar perda de prazer em atividades antes agradáveis, muitas vezes acompanhada de cansaço ou fadiga.
Segundo Ana Carolina ”para caracterizar o quadro depressivo, os sintomas precisam apresentar intensidade, duração de mais de duas semanas, além de prejuízos significativos para a vida da pessoa.”
Outros sinais comuns incluem:
- Tristeza persistente;
- Perda de interesse em atividades prazerosas;
- Mudanças no apetite (perda ou ganho de peso);
- Alterações no sono;
- Sensação de fadiga e de falta de energia;
- Dificuldade de concentração;
- Agitação ou lentidão nos movimentos;
- Sentimento de culpa;
- Desesperança;
- Sensação de inutilidade;
- Pensamentos sobre morte.
Porém, é importante destacar que para confirmar o diagnóstico não é necessária a presença de todos os sintomas. “Cada pessoa experimenta a depressão de um jeito único. Mas o que une todos os casos é a mudança no comportamento, nos pensamentos e nos sentimentos, observa Ana Carolina.
Além disso, a forma como a depressão se manifesta varia conforme a idade. Em adolescentes, por exemplo, pode surgir irritabilidade, acompanhada de queixas físicas, alterações no sono e no apetite, assim como maior sensibilidade à rejeição social. Já em crianças os sinais costumam incluir atitudes negativas, baixa tolerância à frustração e, em alguns casos, explosões de raiva.
Por isso, um sinal de alerta é quando essas mudanças aparecem em mais de um contexto de convivência — por exemplo, em casa e também na escola.
Frequência da Depressão
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas no mundo, o que representa cerca de 4% da população global.
Na infância, o transtorno é menos comum, atingindo apenas 1% a 2% das crianças. Ainda assim, provoca sofrimento intenso e, sem tratamento, tende a se agravar ao longo do tempo.
Já na adolescência, o cenário muda. A prevalência aumenta para 4% a 8% dos jovens, sendo quase o dobro entre meninas.
Causas e fatores de risco:
A depressão é uma condição multifatorial. Em outras palavras, ela resulta da interação entre aspectos genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais. Em geral, os fatores de risco são cumulativos. Desta forma, quanto mais fatores estiverem presentes, maior será a probabilidade de desenvolvimento do transtorno.
Fatores genéticos: a predisposição pode ser herdada. Assim, pessoas com histórico familiar (pais, avós, irmãos) de depressão apresentam risco aumentado.
Fatores ambientais: incluem experiências e estímulos externos, como traumas, estresse crônico, racismo, bullying, uso excessivo de redes sociais e consumo de drogas. Além disso, o contexto familiar, o estilo de educação e a rede de apoio — formada por família, amigos e escola — exercem forte influência. Vale destacar que, quanto menor a criança, maior tende a ser o impacto do ambiente.
Consequências da depressão
A depressão pode, sobretudo, se instalar de forma gradual, muitas vezes ainda na juventude. Por isso, quanto mais cedo a pessoa buscar ajuda e iniciar o tratamento, maiores serão as chances de recuperação. Caso contrário, aumenta a probabilidade de o quadro se tornar crônico, alternando períodos de melhora e piora dos sintomas.
Quando não tratada, a depressão pode resultar em baixo desempenho escolar ou profissional, problemas de saúde física, dificuldades nas relações familiares e sociais, além de queda na autoestima.
Outro ponto importante é que, em muitos casos, outros transtornos — como o TDAH — surgem em conjunto com a depressão, o que dificulta o diagnóstico. Além disso, trata-se de um dos transtornos mentais mais associados ao risco de comportamento autolesivo e suicídio.
Tratamento da depressão
O tratamento da depressão é amplo, contínuo e individualizado. Seu objetivo é não só aliviar os sintomas e restaurar a funcionalidade, como também reduzir o risco de recaídas.
Normalmente ele inclui desde medidas básicas — como adoção de uma rotina saudável, realização de atividades prazerosas e fortalecimento da rede de suporte até intervenções específicas, como psicoterapia. Em alguns casos, é necessário o uso de medicamentos prescritos por um psiquiatra.
- Psicoeducação: assim como em qualquer diagnóstico de saúde mental, é essencial orientar o paciente e sua família sobre a condição e o tratamento. Essa medida ajuda a esclarecer dúvidas e a lidar com angústias do processo.
- Mudanças de hábitos: exercícios físicos, sono regular, dieta balanceada, organização de rotinas e prevenção ao uso de drogas são fatores protetivos que exercem papel importante no tratamento.
- Psicoterapia e medicação: em quadros leves e moderados, a psicoterapia pode ser utilizada de forma isolada. Já nos casos moderados e graves, costuma-se associar psicoterapia e medicamentos. Estudos apontam maior eficácia em técnicas como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapia Interpessoal (TIP). Além disso, terapias familiares e de abordagem psicodinâmica também podem ser úteis.
Por que falar sobre depressão e saúde mental?
A depressão é uma das doenças mais relevantes no Brasil e no mundo. Só para ilustrar, ela é o principal motivo de incapacidade e afastamento do trabalho.
Adicionalmente, é importante destacar que a maioria dos transtornos mentais tem início na infância e na adolescência: 75% surgem antes dos 24 anos de idade e 50% se manifestam até os 14 anos.
Porém, apesar dos números alarmantes, cerca de 80% dos casos não recebem tratamento — principalmente por falta de informação e pelo estigma que envolve o tema.
Portanto, mudar essa realidade exige tanto ampliar o acesso ao conhecimento quanto fortalecer a conscientização social. Afinal, o conhecimento é a melhor arma contra o preconceito.
Cuidar da gente é cuidar da mente. Quanto mais cedo, melhor!