No Brasil, os jovens estão começando a beber cada vez mais cedo. A bebida alcoólica na adolescência se tornou uma realidade preocupante. Segundo um estudo do Ministério da Saúde, meninos iniciam o consumo de álcool por volta dos 14 anos. enquanto as meninas iniciam aos 15. Já na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), de 2019, 63,3% dos jovens entre 13 e 17 anos disseram já ter experimentado bebidas alcoólicas.
Embora a venda e o consumo por menores de 18 anos sejam proibidos por lei, um levantamento realizado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) mostram outra realidade. Cerca de 9,4% dos adolescentes beberam com consentimento da família, e 3,8% consumiram álcool em casa com permissão. Além disso, o acesso às bebidas em festas e encontros com amigos tem se tornado cada vez mais comum, contribuindo para a naturalização do consumo.
Apesar de ser uma droga com sérios impactos sociais, o álcool ainda é visto com leveza. Seus efeitos nocivos são muitas vezes ignorados. Por isso, é fundamental conversar com os adolescentes sobre o assunto.
Nesse sentido, a escola pode ter um papel transformador na hora de mostrar para as futuras gerações que um copo de bebida pode trazer muito mais consequências do que uma ressaca no dia seguinte.
Bebidas alcoólicas na adolescência
A adolescência é um período de mudanças intensas. Ao mesmo tempo que os jovens buscam independência, também sentem necessidade de pertencimento. Querem apoio, mas resistem à ajuda.
Também, durante a adolescência, o corpo passa por alterações hormonais e o cérebro ainda está em formação. Isso torna o adolescente mais vulnerável a influências externas. Assim, o álcool encontra terreno fértil. Muitos jovens começam a beber para se integrar socialmente. Também usam a bebida para vencer a timidez, a sensação de inadequação ou aliviar a insegurança. Em vários casos, o primeiro gole vira um rito de passagem, ou seja, um sinal de que já são “adultos”. Porém, poucos sabem os reais efeitos do álcool.
Consequências do consumo precoce
Como discutimos no episódio do podcast “O que os pais precisam saber sobre o consumo de drogas na adolescência, o álcool é tão perigoso quanto outras drogas. Quanto mais cedo começa o consumo, maior o risco de dependência na vida adulta. Além disso, o álcool afeta o cérebro do jovem de forma diferente do adulto. Durante a adolescência, o cérebro é mais plástico. Isso significa que o álcool pode causar alterações duradouras no comportamento.
Uma pesquisa recente apontou os impactos do consumo excessivo em jovens. Entre os prejuízos estão perda de memória, dificuldade de aprendizado, impulsividade e problemas de atenção. Os efeitos são ainda mais graves em mulheres jovens, filhos de pessoas com dependência alcoólica e adolescentes que também usam outras drogas, como cigarro e maconha.
Além dos danos físicos, há riscos sociais. Jovens que consomem álcool se expõem mais a acidentes, brigas e relações sexuais sem proteção ou consentimento. Nesses casos, crescem os riscos de gravidez não planejada e infecções sexualmente transmissíveis
Como falar sobre o tema na escola?
A adolescência favorece o apelo das bebidas alcoólicas. Por outro lado, a sociedade contribui pouco para a conscientização. Um exemplo claro é a cerveja, que por ter menos de 13% de teor alcoolico, não se enquadra na lei que regulamenta a publicidade de bebidas alcóolicas. Desta forma, é comum ver comerciais de cerveja em qualquer horário, o que reforça a ideia de que beber é algo natural.
As contradições não param por aí. Hoje, em festas de 15 anos, é comum o serviço de drinks sem álcool. Apesar de inofensivos, esses drinks imitam bebidas alcoólicas e reforçam o desejo de consumir álcool. Como aponta a jornalista Carolina Delboni: “Você ofereceria cigarros de mentira? Montaria um bar de drogas não drogas?”. Então, por que vemos drinks que não são drinks como algo bacana?
É justamente por esses motivos que discutir o álcool nas escolas é tão importante. Os Educadores participam da formação dos jovens. Por isso, podem — e devem — orientar e influenciar comportamentos. Algumas instituições já têm feito esse trabalho. O CISA, por exemplo, promove intervenções em escolas públicas. O foco está na prevenção e no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, que ajudam os jovens a refletirem sobre o consumo precoce.
Além dessas ações, a escola pode adotar outras estratégias. Rodas de conversa, campanhas e diálogos com famílias são formas eficazes de criar um ambiente de conscientização. Quanto mais aberto for o espaço para escuta e troca, maiores as chances de orientar os adolescentes.
Assim como o consumo de álcool, o cyberbullying também merece a atenção dos educadores. Quer saber mais? Confira nossos podcasts no Spotify!