Primeiros socorros emocionais

 

Tombos, cortes e queimaduras são comuns na infância. Afinal, é nessa fase que começamos a entender nosso corpo e seus limites. Desde cedo, também aprendemos que feridas físicas precisam de cuidados. No entanto, se refletirmos um pouco, veremos que feridas emocionais também surgem nessa etapa da vida — mas, ao contrário das físicas, nem sempre aprendemos a cuidar delas. Falta-nos, muitas vezes, o equivalente aos primeiros socorros emocionais para lidar com essas dores invisíveis, mas igualmente importantes.

Essa diferença chamou a atenção do psicólogo norte-americano Guy Winch. Autor do livro Primeiros Socorros Emocionais, ele considera inaceitável que dores causadas por solidão, rejeição, fracasso ou culpa ainda sejam negligenciadas. Em seu trabalho, Winch mostra que é possível criar um “kit” de primeiros socorros emocionais. Com ele, podemos cuidar da saúde mental e evitar que dores se tornem feridas profundas ou até mesmo transtornos mentais.

Afinal, por que ignoramos as dores da mente?

Nos últimos anos, o tema da saúde mental ganhou visibilidade. A pandemia, por exemplo, tirou muitas pessoas da zona de conforto. Porém, ainda assim, o assunto segue cercado de estigmas. Muitos não sabem identificar seus sentimentos e, por isso, não conseguem cuidar das questões emocionais.

Segundo Winch, mesmo com técnicas comprovadas para tratar as feridas da alma, a maioria das pessoas ainda não as reconhece. Como não enxergamos a dor, tendemos a ignorá-la. Além disso, o desconforto diante do invisível e a falta de educação emocional dificultam o autocuidado.

Como resultado, dores que poderiam ser tratadas logo no início se transformam em transtornos graves. Para o psicólogo, é inaceitável continuar tratando a mente como se fosse menos importante que o corpo.


Como aplicar os primeiros socorros emocionais

Você sabia que feridas emocionais distorcem nossa percepção? Quando acreditamos em algo negativo sobre nós mesmos, é difícil mudar esse sentimento. Por isso, quem fracassa muitas vezes se convence de que não é capaz — e leva essa ideia equivocada para outras áreas da vida.

Na prática, poucas pessoas sabem reagir a feridas emocionais. Mas é possível aprender. A seguir, veja os passos propostos por Guy Winch para aplicar os primeiros socorros emocionais:

1. Reconheça sua dor emocional

Assim como a dor física, a dor emocional é um alerta. Ela mostra que algo está errado. Se sentimentos de rejeição, fracasso ou solidão persistem ou geram sofrimento constante, é sinal de que há uma ferida emocional. E ela precisa de atenção. Essas dores não são menores que as físicas. A solidão, por exemplo, é um dos fatores que pode até reduzir a expectativa de vida.

2. Avalie suas reações

As emoções dolorosas tendem a distorcer a realidade. Por exemplo, quando fracassamos, em vez de refletir sobre o que podemos melhorar, muitas vezes mergulhamos em sentimentos de incapacidade. Isso pode gerar isolamento e, com o tempo, levar à depressão. Por isso, além de reconhecer as dores, é essencial observar como reagimos a elas.

3. Proteja sua autoestima

Para Winch, a autoestima funciona como um sistema imunológico da mente. Ela nos protege da dor e fortalece nossa resiliência. Por  esses motivos, devemos cuidá-la, especialmente nos momentos difíceis. Uma forma eficaz de fazer isso é praticar a autocompaixão. Percebeu que está se criticando demais? Tente se tratar como trataria um amigo querido. Um bom exercício para se fazer nesses momentos é escrever um e-mail como se você fosse mandar para um amigo, mas neste caso o destinatário do e-mail será você mesmo.

4. Quando os pensamentos negativos dominarem, aja

Nossa mente tende a ruminar situações dolorosas como forma de proteção. No entanto, esse processo costuma piorar o sofrimento. Se perceber que está preso a pensamentos negativos, procure se distrair. Atividades prazerosas ou que exigem foco, como sudoku, música ou matemática, podem interromper esse ciclo.

5. Ressignifique as perdas

Perdas emocionais também deixam marcas. Por isso, a melhor forma de enfrentá-las é dar um novo significado a essas experiências. Em vez de focar na ausência, procure enxergar o aprendizado. Mesmo diante da morte de alguém querido, o processo de luto tem como finalidade justamente ressignificar essa perda. Isto é apesar da morte, existem  memórias positivas que devem ser lembradas com carinho.

6. Evite a culpa excessiva

A culpa é uma dor emocional comum, especialmente em rompimentos e conflitos. Quando moderada, ela é útil, pois nos leva à reparação. No entanto, em excesso, pode ser paralisante. Segundo Winch, a culpa tóxica consome energia, prejudica a concentração e dificulta o prazer de viver. O melhor caminho é pedir desculpas com empatia, sem justificar ações ou minimizar a dor do outro.

Tratando feridas emocionais

Diante de um ferimento físico, sabemos como agir: limpar, desinfetar e proteger. Mas, no caso das emoções, esse cuidado ainda é pouco ensinado. Criar seu próprio kit de primeiros socorros emocionais é essencial — e essa tarefa é pessoal. Terapia, meditação, atividades físicas e momentos de lazer são exemplos de ferramentas que podem ajudar. O mais importante, porém, é não ignorar a dor. Assim, evitamos que ela se torne algo mais grave.

Manter hábitos de autocuidado mental também faz parte da prevenção. Incluir pequenas ações no dia a dia fortalece a resiliência e reduz o impacto das feridas emocionais.

Gostou de saber mais sobre os primeiros socorros emocionais? Veja também como uma faxina de começo de ano pode ajudar a limpar os pensamentos.

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