saúde mental periférica

A pandemia da COVID-19 ampliou o debate sobre a saúde mental periférica e os desafios de diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais no Brasil. De acordo com estudos da UERJ e da UFRGS, houve aumento de 90% nos casos de depressão e 80% de ansiedade entre os brasileiros após 2020. Esses números escancaram a urgência do tema e evidenciam o impacto direto da desigualdade na saúde emocional da população.

Nesse contexto, o pesquisador Marcelo Batista Nery, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP) e coordenador do Centro Colaborador da OPAS/OMS, destaca que o crescimento desses transtornos está ligado não apenas à maior visibilidade e conscientização, mas também às condições sociais e econômicas da população.

Por exemplo, violência urbana, pressões financeiras e desigualdade de acesso a serviços básicos estão entre os principais fatores que comprometem a saúde mental periférica. Como consequência, o cotidiano nas regiões vulnerabilizadas torna-se ainda mais desafiador e emocionalmente desgastante.

Além disso, pesquisas do Brazilian High-Risk Cohort Study (BHRC) apontam que experiências de ameaça — como violência, bullying e abuso — estão fortemente associadas ao surgimento de sintomas psiquiátricos.
Em paralelo, privações materiais também afetam funções cognitivas como atenção, memória e aprendizado, prejudicando o desempenho escolar e profissional.

Por outro lado, moradores de periferias vivem sob exposição constante a esses riscos, acumulando múltiplos fatores de vulnerabilidade. Entre eles, estão a pobreza, o estigma social, a dificuldade de acesso a serviços básicos e a alta incidência de adversidades desde a infância. Essas condições, somadas, intensificam o sofrimento psíquico e tornam a saúde mental periférica uma questão estrutural — que exige, portanto, políticas públicas específicas, permanentes e efetivas.

Crianças e adolescentes: os mais afetados pela exposição à violência

Entre os grupos mais impactados estão crianças e adolescentes, que convivem com a violência de forma precoce. Segundo o BHRC, uma em cada cinco crianças brasileiras apresenta algum transtorno mental — e a exposição à violência amplia significativamente esse risco.

As diferenças de gênero também merecem atenção. Meninas tendem a desenvolver sintomas internalizantes, como ansiedade e depressão. Meninos, por outro lado, manifestam sintomas externalizantes, como agressividade e impulsividade.

Saúde mental periférica: acolhimento e o papel dos serviços públicos

A rede pública tem papel essencial na promoção do cuidado. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), integrados ao Sistema Único de Saúde (SUS), oferecem atendimento gratuito e comunitário. Entre 2013 e 2023, o número de unidades cresceu 42,7%, o que representa um avanço importante.

Apesar do avanço, ainda há desafios significativos: escassez de profissionais, sobrecarga e precarização das condições de trabalho — agravadas pela própria violência urbana que atinge as equipes de saúde.

O psiquiatra Pedro Mario Pan, professor da Unifesp e especialista do Instituto Ame Sua Mente, ressalta que o acolhimento começa com o reconhecimento do sofrimento. Segundo ele, a escuta ativa e sem julgamentos é o primeiro passo para construir uma cultura de cuidado. Para isso, é essencial criar espaços de diálogo e aproximar o serviço público das comunidades.

Saúde mental periférica e políticas públicas: o desafio da equidade

Para Patrícia Marcelino, gestora de projetos do Instituto Cactus, superar as desigualdades em saúde mental requer políticas públicas de longo prazo. Isso porque,  a ausência de políticas consistentes perpetua a exclusão social e aprofunda o adoecimento mental.

A desigualdade social e a violência urbana não afetam apenas o corpo. Elas também deixam marcas profundas na mente. Assim, promover a saúde mental periférica significa garantir que todos, independentemente de onde vivam, tenham direito à escuta, ao cuidado e à esperança.

Fortalecer a rede pública, capacitar profissionais e estimular o diálogo comunitário são passos fundamentais. Somente assim o cuidado pode se tornar uma realidade acessível, contínua e transformadora.

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