O ano está chegando ao fim. E, como de costume, muita gente tem a sensação de que ele passou rápido demais. Para algumas pessoas, a chegada de dezembro pode até despertar a chamada “síndrome do fim do ano”. Mas o que isso tem a ver com a saúde mental?
Tem tudo a ver, pois a virada do ano marca o início de um novo ciclo. Junto com ele, surgem novas responsabilidades, desafios e expectativas. Ao mesmo tempo, refletimos sobre as conquistas, perdas e frustrações do ano que passou. Esse movimento pode aumentar a ansiedade ou causar desânimo.
O que é “síndrome do fim do ano”?
Também chamada de dezembrite, a síndrome do fim do ano envolve um turbilhão de emoções. Nesse período, questões afetivas e profissionais ganham força e podem abalar nosso equilíbrio emocional.
Para muitos, dezembro é época de reencontros. Visitas à cidade natal, encontros com amigos ou uma pausa na rotina são comuns. Mas também pode ser um momento de refletir sobre erros, acertos e aprendizados para o futuro.
O desafio está em fazer esse balanço com cuidado, sem cair em culpa excessiva, medo ou ansiedade. Por isso, especialistas recomendam validar os próprios sentimentos com paciência e compaixão. Isso ajuda a aliviar a pressão e a autocobrança.
Saúde mental no ambiente profissional
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, o Brasil já liderava o ranking mundial de pessoas com ansiedade e ocupava o 5º lugar em casos de depressão. O ambiente de trabalho tem papel importante nesse cenário. Muitas empresas ainda negligenciam a saúde mental de seus colaboradores, o que contribui para a sobrecarga emocional.
“Quando as demandas são maiores do que aquilo com que conseguimos lidar, começamos a sentir o estresse”, alerta Andréa S. Regina, diretora-executiva do Instituto Ame Sua Mente. Por isso, é fundamental que as organizações olhem com mais atenção para o bem-estar emocional das equipes. “Promover saúde mental no trabalho melhora a qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, a produtividade”, afirma Andréa.
Crianças e adolescentes também sente
A síndrome do fim do ano pode afetar pessoas de todas as idades — mas o impacto tende a ser ainda maior entre crianças e adolescentes. Segundo Andréa, os jovens sofreram intensamente com o isolamento prolongado durante a pandemia. Esse distanciamento afetou o amadurecimento emocional em uma fase crítica: a construção da identidade. Por isso, as oscilações emocionais, já comuns na adolescência, podem se intensificar no fim do ano.
Com o cérebro ainda em desenvolvimento e poucas habilidades socioemocionais, crianças e adolescentes ficam mais vulneráveis a transtornos mentais. “Entre os impactos possíveis estão a queda no desempenho escolar, aumento da evasão, violência, uso de drogas e dependência química”, explica Rodrigo Bressan, psiquiatra e presidente do Instituto.
Diante disso, quem convive com crianças e adolescentes precisa ficar atento. “Tristeza, irritabilidade, perda de prazer, pensamentos negativos recorrentes, dificuldade de raciocínio, fala sobre morte ou catástrofes são sinais de alerta”, diz Bressan.
O que podemos fazer?
Professores, familiares e responsáveis têm um papel fundamental nesse contexto. Veja algumas atitudes que podem ajudar:
Diante de pensamentos negativos sobre si: valorize as qualidades da criança ou jovem e estimule o acolhimento pelo grupo;
Em casos de dificuldade de raciocínio, concentração ou indecisão: avalie possíveis adaptações, caso haja um diagnóstico confirmado;
Se houver pensamentos ruins: proponha reflexões realistas e incentive a observação de aspectos positivos.
A “síndrome do fim do ano” nos desafia a ter um olhar mais atento à saúde mental. Além disso, ela lembra que o cuidado com o bem-estar deve ser uma prioridade constante — todos os dias, o ano inteiro.