Polarização política: saúde mental em perigo

 

A polarização política afeta relacionamentos e tem um impacto real na saúde mental das pessoas. 

O período eleitoral costuma vir acompanhado de estresse. Emoções como esperança e liberdade de escolha se misturam com desilusão, medo, raiva e preocupação. Essa mistura intensa de sentimentos se agrava ainda mais no contexto atual, marcado por opiniões extremas e ânimos exaltados.

No entanto, engana-se quem pensa que esse cenário se limita à época da eleição. A polarização ultrapassou o processo eleitoral e se instalou no nosso cotidiano. Nos últimos anos, temos assistido a um racha ideológico que dividiu famílias, contaminou ambientes de trabalho e desfez amizades de longa data.

Essa situação se tornou tão séria que já ganhou um nome: “síndrome do estresse político”. Embora o termo ainda não conste nos manuais de diagnóstico clínico, ele descreve bem a realidade de muitas pessoas. Trata-se de um estado de desconfiança e cansaço diante de uma sociedade marcada por tensões constantes e emoções negativas. Nos consultórios, o reflexo também é visível. Muitos profissionais de saúde mental relatam um crescimento nas queixas relacionadas à política e ao clima eleitoral.

Mas, como chegamos a este ponto? Um deles é o consumo excessivo de informações, principalmente notícias negativas. Além disso, tendemos a reagir emocionalmente a fatos que exigiriam uma análise racional. Para completar,   as redes sociais facilitaram a disseminação de discursos extremistas e fake news, tornando o ambiente social ainda mais instável.

 

Polarização Política X  Saúde Mental 

Embora o Brasil ainda não tenha dados consolidados sobre o tema, nos Estados Unidos — onde a polarização também é forte — alguns estudos já apontam os efeitos desse ambiente político radicalizado. O relatório Estresse na América, publicado anualmente desde 2007 pela APA (Associação Americana de Psicologia), mostra como esse cenário afeta a saúde mental da população.

Durante as eleições presidenciais com a participação de Donald Trump, os níveis de estresse cresceram. Em 2016, 59% dos republicanos e 55% dos democratas relataram que o processo eleitoral causava esgotamento. Já em 2020, esse número foi ainda maior: 67% de republicanos e 76% entre os democratas.

Outro levantamento, feito em 2019 pela Universidade de Nebraska-Lincoln, reforça o alerta. Dos 800 entrevistados, cerca de 40% afirmaram que o cenário político gera estresse. Além disso, 20% relataram insônia, e um em cada cinco disse ter rompido laços com amigos ou familiares por causa de divergências políticas. Mais de 11% afirmaram que sua saúde física foi prejudicada, e o dado mais alarmante: 4% admitiram já ter tido pensamentos suicidas em razão do ambiente político.

 

 

Divergência de opinião ou ameaça pessoal?  

Os números deixam evidente que a polarização afeta não só a saúde individual, mas também os vínculos sociais. Muitos se sentem isolados e desamparados. Além disso, diversos ambientes de trabalho se tornaram tóxicos, marcados pelo medo de expressar opiniões e sofrer represálias. Especialistas apontam que as perdas afetivas provocadas por esse clima hostil são um dos principais fatores que prejudicam a saúde mental das pessoas.

Como vimos, um dos impactos mais profundos da radicalização política aparece nos relacionamentos. Isso ocorre porque toda polarização cria um clima de desconfiança e confronto. A divergência de opinião, em vez de ser vista como natural, passa a ser percebida como uma ameaça pessoal.

Com isso, o debate deixa de ser racional e se transforma em um processo emocional. As pessoas passam a se comportar de forma coletiva, buscando pertencer a um grupo, ainda que suas motivações sejam individuais. Neste ambiente de rivalidade, praticar um pensamento crítico que pode ser contrário às crenças de pessoas próximas é bastante desafiador. Aí está boa parte do problema e da solução para a criação de um ambiente social mais plural, livre e saudável.

Polarização política

 

Comunicação efetiva

A polarização política é uma consequência de um processo com diversas camadas. As redes sociais, por exemplo, não são a causa principal do problema. No entanto, criam um ambiente fértil para o confronto. As mídias também não são as grandes responsáveis, mas contribuem para o cenário, principalmente quando adotam um tom sensacionalista nas notícias.

A criação de limites para o consumo de informação, assim como práticas que fortalecem nossa estrutura emocional, como mindfulness e meditação são boas estratégias que podemos adotar para proteger a mente e minimizar o espiral de conteúdos negativos e polarizadores.

Contudo, a base do problema está relacionada a uma sociedade autocentrada e a forma como nos comunicamos uns com os outros. Ditos populares já nos lembram da importância de saber ouvir. No entanto, a escuta empática — aquela que acolhe sem julgar — é muito mais difícil do que parece.

Para enfrentar esse desafio, surgiu a Comunicação Não Violenta (CNV). Essa metodologia propõe uma escuta verdadeira, sem julgamentos ou interpretações precipitadas. Também incentiva uma fala consciente, clara e conectada aos nossos sentimentos. A CNV tem sido aplicada em diferentes contextos, desde empresas até relações familiares.

 A CNV parte da simples premissa de que trocas mais honestas e conexões emocionais reais são a solução para as tensões e os desencontros do dia a dia.

Saiba mais ouvindo os podcasts do Projeto Ame Sua Mente na Escola sobre a Comunicação Não Violenta e sobre como criar um ambiente favorável para o diálogo em família.

 

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