Crianças e adolescentes já são naturalmente vulneráveis a problemas e transtornos mentais. Essa vulnerabilidade decorre de diversos fatores biológicos e contextuais. Entre eles, destaca-se o impacto do racismo na infância — uma ameaça grave que desumaniza e fere profundamente a vítima.
De acordo com o Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade de Harvard, o estresse causado pelo racismo mantém os sistemas de alerta de uma criança ativados por longos períodos. Esse estado constante de tensão pode afetar o cérebro em desenvolvimento e prejudicar outros sistemas biológicos. Como consequência, surgem impactos negativos duradouros na aprendizagem, nas relações sociais e na saúde física e mental.
Além disso, outro estudo americano demonstrou que vivências de racismo estão associadas a sintomas depressivos mais intensos, maior sofrimento psíquico, baixa autoestima, queda na motivação e no desempenho escolar. Também estão ligadas ao aumento de comportamentos de risco e do uso de substâncias psicoativas. (Fonte: Associação Americana de Psiquiatria).
O Impacto do racismo nas Escolas
No Brasil, os dados do IBGE revelam desigualdades significativas na educação de crianças e adolescentes negros. Entre elas:
- Taxas mais baixas de conclusão do ensino médio e superior;
- Menor frequência escolar de crianças negras de 0 a 5 anos;
- Menor tempo de estudo e permanência na escola;
- Índice de analfabetismo mais alto em comparação a crianças brancas;
- Maior taxa de abandono escolar ao longo da educação básica.
Outro dado alarmante vem do Ministério da Saúde: o índice de suicídio entre adolescentes e jovens negros é 45% maior do que entre brancos. Esse número se concentra, sobretudo, em homens entre 10 e 29 anos.
Prevenção, conscientização e sanção
O racismo no Brasil é estrutural. Ou seja, está entranhado nas bases sociais, políticas e econômicas da nossa sociedade. Diante disso, construir uma nova realidade exige prioridade, sensibilidade e disposição para refletir sobre nossas atitudes e relações cotidianas. Mais do que isso, demanda um compromisso coletivo com a transformação.
Em 2024, um avanço importante nesse caminho foi a criação da Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ). Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), essa política busca desenvolver ações e programas que enfrentem o racismo no ambiente escolar. Para isso, estão previstos R$ 1,5 bilhão em investimentos até 2027, com a meta de alcançar mais de 5 mil municípios. Além disso, a proposta se estrutura em sete eixos de atuação que abordam o problema de forma ampla e integrada
Entre os principais objetivos, está a garantia da aplicação da Lei nº 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino sobre a cultura africana e afro-brasileira nas escolas. No entanto, essa lei ainda não é plenamente respeitada. Muitas vezes, o tema só aparece de forma pontual, como no Dia da Consciência Negra, deixando de fazer parte do currículo de forma contínua.
Nesse sentido, Alexsandro Santos, diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica do MEC, destaca:
“Como o racismo é um sistema que estrutura as relações na sociedade brasileira, o trabalho que a escola precisa fazer para enfrentá-lo também deve ser sistêmico e estrutural. Não dá para que nossas escolas continuem trabalhando o enfrentamento ao racismo numa perspectiva episódica. Ignorar o caráter cotidiano do racismo faz com que ele siga se reproduzindo nas relações educativas.”
Educação como ferramenta de transformação
A nova política propõe medidas concretas para mudar esse cenário. Entre elas, está a formação de professores e gestores escolares. Capacitados esses educadores estarão mais preparados para abordar as questões raciais com segurança e sensibilidade. Além disso, a bibliografia deverá incluir livros didáticos atualizados e incentivar a publicação de obras sobre o tema.
O MEC também prevê incentivos financeiros, técnicos e simbólicos para as redes de ensino que colocarem essas diretrizes em prática.
Por fim, um ponto essencial: a criação de protocolos oficiais de prevenção e resposta a práticas racistas nas escolas e universidades. Esses protocolos devem esclarecer responsabilidades e prever punições para os autores das agressões, promovendo justiça e proteção no ambiente educacional.
Para saber mais sobre o impacto do racismo na infância
Pois é, o tema é urgente e merece um “textão” – este é um chamado para unirmos forças pois a cultura influencia o comportamento de indivíduos de uma comunidade, contudo, o comportamento de um grupo de pessoas determina a cultura.
Vamos juntos! Acesse e compartilhe o Caderno Letramento e Consciência Racial , segunda publicação da série Recomendações sobre Saúde Mental para a Gestão Escolar, do Instituto Ame Sua Mente.
Já, se você quer entender a diferença entre racismo e bullying, baixe nossa Ficha Informativa “Por uma educação antirracista”.