Primeira infância e competências socioemocionais estão profundamente conectadas, pois o desenvolvimento emocional das crianças começa muito antes de elas aprenderem a ler e escrever.
Na primeira infância — período que vai do nascimento aos seis anos — o cérebro passa por uma intensa fase de formação. Nesse momento constrói-se a base para o desenvolvimento intelectual, psicológico e social que acompanhará a criança por toda a vida.
Além disso, até os seis anos, existe uma janela de oportunidade especialmente importante para fortalecer as competências socioemocionais. Ou seja, é nesse período que a criança aprende a lidar com os próprios sentimentos, conviver com os outros e se adaptar às diferentes circunstâncias do dia a dia.
Consequentemente, essas habilidades tornam-se essenciais para a construção de relações saudáveis e para a saúde mental ao longo da vida.
Por que a primeira infância é importante para o desenvolvimento de competências socioemocionais?
Diversos estudos científicos demonstram que os primeiros anos são um período especialmente sensível para o desenvolvimento do cérebro. Isso significa que as experiências vividas nessa fase moldam a forma como a criança reconhece, expressa e regula suas emoções.
Nessa etapa, estímulos positivos — como o carinho dos pais e cuidadores, o acolhimento dos educadores e o brincar livre — favorecem o equilíbrio emocional e ajudam a criança a reagir de forma saudável a novos desafios. Além disso, esses estímulos impactam diretamente o aprendizado e a qualidade de vida, tanto no presente quanto no futuro.
Por outro lado, a ausência de afeto e estímulo pode comprometer o desenvolvimento emocional, prejudicar o desempenho escolar e, ainda, afetar a forma como a criança se relaciona ao longo da vida.
O brincar como ferramenta de cuidado na primeira infância
“A grande ferramenta que a gente tem com as crianças na educação infantil é o brincar, é o faz de conta, é a experimentação. Dessa forma, conseguimos trabalhar com muita clareza as competências socioemocionais essenciais para o dia a dia e que nos acompanham ao longo da vida. Além disso, essas competências são fatores de prevenção de problemas de saúde mental na vida adulta.”, afirma Leticia Albernaz Guimarães Lyle, cofundadora e diretora da Camino Education e membro do Conselho de Administração do Instituto Ame Sua Mente.
Brincar é muito mais do que diversão. Na prática, é no jogo simbólico, na interação e na imaginação que as crianças aprendem a compartilhar, resolver conflitos, entender limites e reconhecer as próprias emoções.
Portanto, na escola, cada momento de brincadeira é também uma oportunidade de desenvolver competências fundamentais para a vida.
O papel do educador na primeira infância
De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame Sua Mente, “saúde mental é a nossa habilidade de negociar com as nossas emoções todos os dias.”
Segundo Bressan, a capacidade de lidar com adversidades e manter relacionamentos saudáveis está diretamente relacionada ao desenvolvimento das competências socioemocionais — como autoconhecimento, empatia, responsabilidade e tomada de decisão.
Embora essas habilidades possam ser aprendidas ao longo da vida, a primeira infância é o momento mais favorável e promissor para essa construção.
Nesse contexto, o papel do educador é fundamental. Por meio das atividades, interações e brincadeiras propostas em sala de aula, é possível desenvolver habilidades como:
- Autoconhecimento
- Percepção social
- Respeito às regras e aos outros
- Resolução de conflitos
- Tomada de decisões responsáveis
“Todos esses elementos aparecem com muita naturalidade na educação infantil, justamente porque temos a possibilidade e a flexibilidade de desenvolvê-los de forma mais orgânica, ou seja, próxima de como funcionam no dia a dia.”, completa Letícia.
O adulto como exemplo
Trabalhar competências socioemocionais na primeira infância começa pelo olhar atento do adulto. Escuta ativa, curiosidade, empatia e disposição para rever padrões são atitudes essenciais de quem educa.
Na educação infantil, as crianças observam cada gesto, palavra e reação dos adultos. Assim, elas moldam seus referenciais a partir desses exemplos. Por isso, é fundamental que o educador também cuide da própria saúde mental e desenvolva suas competências emocionais.
Como disse Albert Einstein:
“Exemplo” não é outra maneira de ensinar — é a única maneira de ensinar.
Investir no desenvolvimento socioemocional desde a primeira infância é uma das formas mais eficazes de promover saúde mental, aprendizagem e vínculos saudáveis ao longo da vida. Nesse sentido, a escola, junto com a família, tem um papel essencial nessa jornada.