
O tema das habilidades socioemocionais tem ganhado cada vez mais destaque nos debates sobre educação, saúde mental e desenvolvimento humano. Porém, isso não é por acaso. Hoje, há amplo consenso científico de que essas competências influenciam diretamente a forma como sentimos, pensamos e nos relacionamos ao longo da vida. Além disso, elas ainda ajudam a explicar por que algumas pessoas conseguem lidar melhor com desafios, frustrações e mudanças constantes.
Afinal, quais são as habilidades socioemocionais? Como podemos defini-las? De que maneira elas se desenvolvem? Por que exercem um papel tão importante para a nossa saúde mental? Mas, para responder a essas questões, este texto reúne evidências científicas, reflexões, conteúdos do Instituto Ame Sua Mente e pesquisas recentes.
O que são habilidades socioemocionais?
A CASEL, — provavelmente, a instituição mais influente nesse campo —define habilidades socioemocionais como competências que nos permitem:
compreender e gerenciar emoções;
estabelecer e manter relacionamentos saudáveis;
tomar decisões responsáveis;
lidar de forma eficaz com demandas e desafios do dia a dia.
Em outras palavras, habilidades socioemocionais são padrões de pensamento, sentimento e comportamento que usamos para lidar conosco, com os outros e com o mundo. Afinal, elas envolvem como reconhecemos nossas emoções e reagimos em situações difíceis. Também mostram como organizamos nossas escolhas e construímos relações em diferentes contextos. Desta forma, contribuem de forma decisiva para a saúde mental, o bem-estar, o desempenho escolar. Acima de tudo, contribui para a qualidade das relações.
Além disso, é importante ressaltar que essas competências não são inatas. Segundo estudos da OCDE (2015–2021), as habilidades socioemocionais podem ser aprendidas e desenvolvidas ao longo de toda a vida. Esse processo acontece por meio de experiências, relações sociais e valores que nos acompanham desde a infância. Portanto, são profundamente moldadas pelo ambiente em que crescemos, estudamos e convivemos.
Por que as habilidades socioemocionais importam para a saúde mental?
1. Funcionam como proteção emocional
Conforme apontam diversas pesquisas, adolescentes e adultos com habilidades socioemocionais desenvolvidas apresentam menor risco de transtornos mentais, como, por exemplo, ansiedade e depressão. Outras evidências indicam que pessoas que utilizam boas estratégias de modulação emocional conseguem reduzir mais rápido os níveis de cortisol após situações estressoras.
2. Ampliam o autoconhecimento
O autoconhecimento é o ponto de partida para o desenvolvimento pessoal. No fundo, reconhecer as próprias emoções, limites e necessidades é condição para tomar decisões equilibradas e conscientes. Essa clareza, por sua vez, favorece relações mais seguras e incentiva a busca por cuidados apropriados sempre que necessário.
Veja mais em: “Saúde mental é vida: o que podemos fazer para protegê-la?”
3. Fortalecem relações e sentimento de pertencimento
Habilidades como empatia, escuta e respeito ajudam a criar ambientes mais saudáveis e acolhedores — ponto essencial para a convivência nas famílias, escolas e equipes de trabalho. Logo, abre-se espaço para a valorização da diversidade e o fortalecimento de vínculos.
4. Impactam o processo de aprendizagem
De acordo com a OCDE, habilidades socioemocionais como foco atencional, resiliência e motivação ajudam as pessoas a aprender melhor. Essas competências também favorecem o engajamento e a capacidade de lidar com frustrações. Para completar, elas contribuem para desenvolver confiança e autonomia. Assim, fortalecem tanto o desempenho escolar quanto a capacidade de aprender ao longo da vida.
5. Preparam para um mundo em transformação
Em um ambiente marcado por dinâmicas sociais constantes, indivíduos conectados em rede e avanços tecnológicos disruptivos, algumas habilidades tornam-se cruciais. Conhecidas como “soft skills”, competências socioemocionais como adaptabilidade, colaboração e tomada de decisão ética são cada vez mais valorizadas em diferentes contextos de trabalho. Por isso, preparar crianças, jovens e adultos para desenvolvê-las é fundamental para acompanhar as mudanças do século 21.
Conheça as cinco famílias de habilidades socioemocionais
Em vez de enxergar as habilidades socioemocionais como conceitos isolados, a CASEL propõe sua organização em cinco grandes domínios – também conhecidos como grupos ou famílias. Com essa organização, fica mais fácil compreender como cada grupo contribui para o desenvolvimento humano. Ela ainda ajuda a identificar as habilidades que já utilizamos de forma eficaz, bem como aquelas cujo desenvolvimento pode nos trazer benefícios.
Validada em estudos internacionais e apresentada de forma acessível em nosso videocast sobre competências socioemocionais, essa divisão não tem o objetivo de rotular pessoas. Pelo contrário, funciona como uma lente que nos permite enxergar padrões: como reagimos diante de desafios, como nos relacionamos, de que modo persistimos em nossos objetivos e quais estratégias de cuidado utilizamos. Clique para acessar:
A seguir, você encontra uma explicação mais integrada — menos técnica, mais humana — de cada uma dessas famílias.
A partir disso, conseguimos compreender melhor o que sustenta o desenvolvimento emocional ao longo das fases da vida. A seguir, conheça cada uma dessas famílias:
a. Abertura ao novo: onde nascem as possibilidades
A abertura ao novo é o conjunto de habilidades que nos permite imaginar, criar, fazer perguntas e conectar ideias. Como resultado, impulsiona a experimentar, explorar e ampliar repertórios.
Entre diversas atribuições, essa família promove a exploração na infância, estimula questionamentos na adolescência e favorece a reinvenção de caminhos na vida adulta. Ou seja, acompanha o desenvolvimento humano em todas as etapas e, por isso, está diretamente ligada à capacidade de adaptação.
Da mesma forma, esse grupo é essencial para a saúde mental. A imaginação funciona como uma ferramenta importante de enfrentamento. Afinal, ela que nos ajuda a visualizar caminhos, criar soluções e dar sentido a experiências difíceis.
b. Autogestão: a ponte entre intenção e ação
Se, com abertura ao novo, imaginamos possibilidades; com as competências de autogestão, colocamos essas ideias em prática. Portanto, aqui entram habilidades como foco, organização, persistência e responsabilidade. Por consequência, favorecem escolhas consistentes e sustentam a execução das tarefas do dia a dia.
A autogestão é igualmente decisiva para a saúde mental, pois contribui para criar rotinas, estabelecer prioridades e lidar com frustrações. Além disso, fortalece a capacidade de manter compromissos importantes e seguir em direção às metas, mesmo quando algo desafia nossas emoções.
c. Engajamento com os outros: aproximar-se do mundo
Essa família reúne habilidades relacionadas à comunicação e às relações. Formada por competências como empatia, participação, colaboração, resolução de problemas e construção de vínculos. Esse grupo ainda fortalece nossa rede de suporte. Afinal, ninguém atravessa desafios sozinho.
É importante observar que não estamos falando de ter um perfil extrovertido. Na verdade, trata-se de estar disponível para o encontro, afirmar presença, oferecer colaboração e, quando necessário, pedir ajuda. Assim, abrimos espaço para relações mais verdadeiras.
d. Amabilidade: construir vínculos que sustentam
Empatia, respeito e confiança formam essa família de habilidades — talvez a mais importante para criar ambientes saudáveis. Isso porque ela atua diretamente na qualidade das relações.
No entanto, amabilidade não é ingenuidade. Sendo assim, ela envolve reconhecer como legítimas as emoções do outro. Por fim, acolher a diversidade e sustentar vínculos positivos favorece ambientes mais cooperativos.
e. Modulação emocional: o centro que equilibra tudo
No meio das outras quatro famílias está a que organiza nossa relação com emoções como medo, raiva e tristeza. Em resumo, funciona como um eixo regulador, equilibrando o que sentimos e como reagimos.
“Buscar a felicidade o tempo todo é a receita para dar tudo errado. Ter saúde mental é saber negociar com as emoções e voltar ao estado estável.” – Rodrigo Bressan
Por que é importante desenvolver habilidades socioemocionais desde a infância?
Ainda que essas habilidades possam se desenvolver em qualquer fase da vida, a infância representa uma janela de oportunidade. Afinal, este é o período de maior plasticidade cerebral. É também o momento em que há mais abertura para aprender, experimentar, socializar e construir a base que sustentará a saúde emocional na vida adulta.
Além disso, crianças que aprendem a nomear emoções, ouvir o outro, lidar com frustrações e cooperar tendem a apresentar maior equilíbrio emocional. Portanto, também demonstram melhor desempenho escolar e constroem relações mais saudáveis ao longo da vida.
E na adolescência, como seguir desenvolvendo as habilidades socioemocionais?
Estudos mostram que a adolescência tende a ser um vale na curva de evolução do aprendizado socioemocional. Isso ocorre pois os jovens passam por mudanças internas e externas que exigem novas habilidades.
Por essa razão, esse é um momento decisivo para apoiar os jovens a modular suas emoções, ganhar autonomia e ampliar seu repertório emocional. Sendo assim, criar espaços de escuta qualificada e oferecer acolhimento — mesmo quando eles não expressam essa necessidade — faz toda a diferença.
Habilidades socioemocionais na escola
A escola é o lugar onde as primeiras relações sociais acontecem e, com elas, as experiências que fazem parte do aprendizado socioemocional. Por isso, é fundamental criar ambientes escolares emocionalmente saudáveis que promovam o desenvolvimento emocional e, assim:
reduzam conflitos;
fortaleçam o vínculo professor-aluno;
melhorem o processo de aprendizagem;
diminuam a evasão escolar;
ofereçam suporte a toda a comunidade escolar.
Acompanhe também:
→ Saúde mental dos professores: uma questão a ser enfrentada
Promover a saúde mental e o desenvolvimento socioemocional na educação é cuidar do desenvolvimento integral e do bem-estar coletivo — da infância à vida adulta.
Navegue pelo nosso menu de conteúdos. Confira alguns destaques:
→ Blog: Atividades e exercícios para desenvolver habilidades socioemocionais na infância
→ Fica informativa: Da alegria à tristeza: qual o papel das emoções?
→ Webstories: O que é parentalidade?








