Polarização política: saúde mental em perigo

A polarização política afeta relacionamentos e tem um impacto real na saúde mental das pessoas. As eleições representam um perigo especial.

O período de eleições é sempre carregado de um certo nível de estresse, sentimentos como esperança, liberdade de escolha, se misturam com a desilusão, o medo, a raiva e a preocupação. Uma miscelânea de emoções que ganha intensidade no contexto em que vivemos, com opiniões tão divergentes e ânimos tão exacerbados. E quem pensa que a questão é pontual está enganado, essa polarização extrapolou o período do processo eleitoral. Nos últimos anos temos vivido um racha ideológico, que afetou famílias, invadiu os ambientes de trabalho e acabou com amizades antigas.

O assunto é tão sério que recebeu um nome específico: “síndrome do estresse político”. Apesar de ainda não fazer parte dos manuais de diagnósticos clínicos, o termo faz referência à desconfiança e ao cansaço em relação a uma realidade social, sobretudo situações que geram muitas emoções negativas. O efeito já é sentido nos consultórios, os profissionais de saúde mental relatam um aumento das queixas relacionadas ao processo eleitoral.

Rede de desinformação

Mas, como chegamos a este ponto? Entre outros fatores, o consumo excessivo de informações (especialmente notícias ruins), a forma emocional com que lidamos com fatos que deveriam ser encarados racionalmente e a facilitação promovida pelas redes sociais para disseminar discursos extremistas e fake news colaboram para o ambiente social tenso.

 

O período de eleições é sempre carregado de um certo nível de estresse, sentimentos como esperança, liberdade de escolha, se misturam com a desilusão, o medo, a raiva e a preocupação. Uma miscelânea de emoções que ganha intensidade no contexto em que vivemos, com opiniões tão divergentes e ânimos tão exacerbados. E quem pensa que a questão é pontual está enganado, essa polarização extrapolou o período do processo eleitoral. Nos últimos anos temos vivido um racha ideológico, que afetou famílias, invadiu os ambientes de trabalho e acabou com amizades antigas.

O assunto é tão sério que recebeu um nome específico: “síndrome do estresse político”. Apesar de ainda não fazer parte dos manuais diagnósticos clínicos, o termo faz referência à desconfiança e ao cansaço em relação a uma realidade social, sobretudo situações que geram muitas emoções negativas. O efeito já é sentido nos consultórios, os profissionais de saúde mental relatam um aumento das queixas relacionadas ao processo eleitoral.

No Brasil, ainda não temos dados estatísticos, mas nos Estados Unidos, onde a população vive uma polarização semelhante e que tomou mais força na mesma época, estudos mostram o impacto desse ambiente político radicalizado. O relatório “Estresse na América”, publicado anualmente desde 2007 pela APA (Associação Americana de Psicologia, em português), mostrou que o acirramento observado pelas pesquisas eleitorais nas duas edições que tiveram a participação de Donald Trump levou os eleitores a um nível de estresse elevado. Em 2016, 59% dos republicanos e 55% dos democratas responderam que o período eleitoral era uma fonte de esgotamento. Já em 2020, esse número foi ainda maior: 67% de republicanos e 76% entre os democratas.

Outro estudo, publicado em 2019 pela Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA) indica que a situação já assumiu contornos de problema de saúde pública. Cerca de 40% dos 800 entrevistados afirmaram que a atual situação política os estressa, e 20% relataram sofrer de insônia. Além disso, um em cada cinco dos participantes do estudo disse ter perdido vínculos com amigos e familiares por causa de discussões políticas. Mais de 11% afirmou que teve a saúde física afetada pela polarização política e o dado mais alarmante foi que 4% dos indivíduos responderam já ter tido pensamentos suicidas por causa da situação política.

Os índices deixam claro o quanto essa polarização vivida nos últimos anos, vem afetando não apenas a saúde dos indivíduos, mas também seus relacionamentos pessoais, gerando um profundo sentimento de perda e solidão. A situação ainda criou ambientes de trabalho profundamente tóxicos, onde as pessoas vivem com medo de expressar suas opiniões e sofrer represálias por aquilo que acreditam. Especialistas avaliam que o impacto das perdas afetivas é um dos motivos pelo qual a polarização afeta tanto a saúde mental das pessoas.

Nós X Eles

Como vimos, um dos principais impactos do ambiente radicalizado é nos relacionamentos. Isso porque toda polarização cria um ambiente de desconfiança e embate. Tal comportamento é guiado por uma forma emotiva de encarar os fatos, que considera a opinião divergente como ameaça que desafia o posicionamento pessoal com relação ao assunto.

A questão deixa de ser ideológica e intelectual, tornando-se um processo emocional individual. Assim, os indivíduos passam a se comportar de forma coletiva, buscando pertencer a um grupo, ainda que as motivações sejam exclusivamente pessoais.

Neste ambiente de rivalidade, praticar um pensamento crítico que pode ser contrário às crenças de pessoas próximas é bastante desafiador.

Aí está boa parte do problema e da solução para a criação de um ambiente social mais plural, livre e saudável.

Polarização política

Comunicação efetiva

A polarização política é uma consequência de um processo com diversas camadas.

As redes sociais não são a causa do problema, mas certamente criam um ambiente propício para o embate. As mídias também não são as grandes responsáveis, apesar de contribuirem com este cenário, por frequentemente adotarem um caráter sensacionalista nos noticiários.

A criação de limites para o consumo de informação, assim como práticas que fortalecem nossa estrutura emocional, como mindfulness e meditação são boas estratégias que podemos adotar para proteger a mente e minimizar o espiral de conteúdos negativos e polarizadores.

Contudo, a base do problema está realmente relacionada a uma sociedade autocentrada e na forma como nos comunicamos uns com os outros.

Ditos populares reafirmam o que sabemos sobre a importância do interlocutor capaz de ouvir verdadeiramente, mas apesar de necessária, a escuta empática é muito mais difícil do que parece.

Para lidar com esse desafio surgiu a Comunicação Não Violenta, uma metodologia que propõe uma escuta sem julgamentos ou interpretações, e também uma fala consciente, clara e específica a partir dos nossos sentimentos. Essa técnica tem sido adotada em ambientes diversos, desde corporações até relacionamentos familiares. A CNV parte da simples premissa de que trocas mais honestas e conexões emocionais reais são a solução para as tensões e os desencontros do dia a dia.

Saiba mais ouvindo os podcasts do Projeto Ame Sua Mente na Escola sobre a Comunicação Não Violenta e sobre como criar um ambiente favorável para o diálogo em família.

 

Publicado em 16 de Setembro de 2022

© 2023 por Ame sua Mente

Ame sua mente
logo_l

©2023 por Ame sua Mente