O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento. Seus sinais costumam ser percebidos nos primeiros anos e acompanham a pessoa ao longo de toda a vida. Contudo, muitas dificuldades podem ser amenizadas. Isso acontece quando há acompanhamento e estímulos adequados.
O TEA afeta principalmente a comunicação, a interação social e o comportamento. Trata-se de um espectro. Ou seja, manifesta-se de forma diferente em cada pessoa. Algumas precisam de muito apoio no dia a dia, enquanto outras vivem com autonomia e desenvolvem suas próprias estratégias para lidar com os desafios.
TEA – diagnósticos em crescimento
Nas últimas décadas, o número de diagnósticos aumentou bastante. Nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), indicou uma mudança marcante: de 1 caso para cada 150 crianças no ano 2000, para 1 em cada 36 em 2020. No Brasil, embora ainda faltem dados oficiais consolidados, um levantamento inédito está em andamento para preencher essa lacuna. Coordenado pelo Instituto Steinkopf, o Mapa Autismo Brasil (MAB) busca mapear o perfil sociodemográfico da população autista brasileira, reunindo informações essenciais sobre os primeiros sinais identificados, diagnóstico, acesso à saúde e educação, uso de terapias, nível de suporte e renda familiar.
Vale destacar: o aumento nos diagnósticos não significa, necessariamente, um crescimento real dos casos. O que temos é mais informação, logo mais pessoas buscam ajuda. Além disso, há uma maior qualificação dos profissionais e os critérios diagnósticos foram ampliados.
Também existem pesquisas sobre fatores como poluição, fertilização in vitro e condições da gestação. Contudo, é essencial lembrar que essas hipóteses ainda não possuem comprovação definitiva.
Principais características do TEA
Embora o TEA se manifeste de formas diversas, alguns sinais são mais comuns. Veja a seguir:
- Dificuldades de comunicação verbal e não verbal: atraso na fala, repetição de palavras ou frases e dificuldade para compreender gestos e expressões faciais.
- Desafios sociais: dificuldade para fazer amizades, interpretar normas sociais e expressar emoções de maneira convencional.
- Comportamentos repetitivos: são conhecidos como estereotipias, como, por exemplo, balançar o corpo ou bater as mãos.
- Rigidez cognitiva: apego excessivo à rotina e dificuldade de adaptar o pensamento ou o comportamento diante de mudanças, novas situações ou pontos de vista diferentes.
- Alterações sensoriais: sensibilidade aumentada ou reduzida a sons, luzes, texturas e cheiros.
- Interesses restritos: foco intenso e duradouro em certos temas, objetos ou atividades.
Outros aspectos também podem estar presentes. Entre eles: dificuldades motoras, alterações no sono e seletividade alimentar. Em relação às habilidades cognitivas, alguns autistas apresentam deficiência intelectual. Porém, outros demonstram desempenho acima da média em áreas específicas.
Fatores de risco do TEA
O fator genético é o mais bem estabelecido, mas ele não age sozinho. Costuma estar combinado a fatores ambientais. Entre os principais, destacam-se:
- Histórico familiar de TEA;
- Prematuridade extrema;
- Idade avançada dos pais (pais ou mães acima de 35 anos);
- Complicações na gravidez, como hipertensão ou diabetes gestacional;
- Exposição a toxinas ou medicamentos durante a gestação.
Nenhum desses fatores determina, por si só, o autismo. Eles apenas aumentam as chances de manifestação do transtorno.
Como o diagnóstico do TEA é feito?
O diagnóstico do TEA é clínico e deve ser realizado por uma equipe especializada. A avaliação inclui observações e entrevistas com os responsáveis. É essencial diferenciar o TEA de outras condições, como TDAH, transtornos de aprendizagem, depressão e ansiedade.
Os critérios do DSM-5-TR e da CID-11 são utilizados. Eles avaliam a intensidade e variedade dos sintomas, o impacto na rotina e o nível de suporte necessário. Confira os níveis a seguir:
- Nível 1 (leve): a pessoa tem autonomia e comunicação verbal, mas precisa de apoio ocasional para lidar com situações sociais ou mudanças.
- Nível 2 (moderado): necessita de apoio frequente na comunicação e interação. As dificuldades são mais evidentes.
- Nível 3 (intenso): depende de apoio constante em todas as áreas, com severas dificuldades de comunicação e autonomia.
É importante pontuar que esses níveis não são fixos e podem variar ao longo da vida.
Quando o diagnóstico é um desafio
Alguns sinais já são visíveis na infância. No entanto, crianças com bom desempenho verbal podem ter suas dificuldades sociais mascaradas, resultando em diagnósticos tardios. Além disso, meninos são diagnosticados com mais frequência do que meninas. Mas estudos mostram que muitas meninas continuam sem diagnóstico, pois os sinais nelas se expressam de forma mais sutil.
Outros grupos também enfrentam barreiras. Crianças negras, indígenas ou com identidades de gênero diversas têm mais dificuldade de acesso a uma avaliação adequada. Muitas ferramentas de diagnóstico não foram construídas para esses contextos. Assim, as desigualdades são reforçadas.
Por que o diagnóstico precoce é importante?
Quando o diagnóstico acontece cedo, as intervenções tendem a ser mais eficazes. Com apoio especializado, a criança desenvolve melhor suas habilidades sociais, cognitivas e de comunicação. Já os adultos que recebem o diagnóstico tardiamente costumam expressar dois sentimentos. De um lado, relatam alívio por finalmente entenderem o que viveram. De outro, sentem frustração por terem enfrentado tantos desafios sem o suporte necessário.
Apesar do impacto emocional que a confirmação do autismo em uma criança pode causar, identificar a condição precocemente oferece melhores perspectivas de qualidade de vida.
E o tratamento do TEA?
Como o autismo não é uma doença, ou seja, ele é uma forma diferente de o cérebro funcionar e processar informações desde o início da vida, não podemos falar em cura. Mas há formas de oferecer suporte. O tratamento deve apoiar o desenvolvimento da pessoa autista, com respeito à sua singularidade. Veja algumas abordagens comuns:
ABA (Análise do Comportamento Aplicada): incentiva comportamentos adaptativos e mais autonomia.
Terapia Ocupacional com Integração Sensorial: ajuda na organização dos estímulos e no desenvolvimento motor.
Fonoaudiologia: melhora a linguagem, a comunicação e questões alimentares;
Terapia Cognitivo-Comportamental: recomendada para adolescentes e adultos com suporte leve. Auxilia na ansiedade e rigidez cognitiva.
Medicação: usada apenas em casos específicos, para tratar sintomas como irritabilidade ou distúrbios do sono, quando afetam a qualidade de vida.
O plano terapêutico deve ser individualizado. E sempre com participação ativa da família.
A importância do diálogo
A informação é a base para a transformação. Quanto mais falamos sobre o autismo, mais espaço abrimos para o acolhimento, a empatia e o respeito à neurodiversidade.
A construção de uma nova cultura em saúde mental, passa, necessariamente, pelo reconhecimento da singularidade de cada pessoa.
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